Maria Alice Medina, a "Mãe" do Rock in RioReprodução
Mãe de três filhos e avó de oito, mora há cinco anos em Lisboa. Formada em educação física e fisioterapia, trabalha há anos na orientação, acompanhamento e tratamento integral.
É autora do livro “Do Rock a Compostela: às vezes se ganha, às vezes se aprende”, obra em que destaca 20 anos de trajetória pelos místicos caminhos de Santiago de Compostela. Em suas caminhadas, viu refletida em si mesma a experiência de superar desafios e de se conectar profundamente com o seu próprio ser. Daí surgiu o desejo de compartilhar essas vivências no livro. Atualmente, é peregrina e mentora sobre o Caminho.
E a sua história na busca por caminhos de autocuidado, solidariedade, artes e terapias é longa. Ela é diretora e fundadora de institutos atuam nessas pautas e trabalham fazendo o bem ao próximo. Além de também ser embaixadora de uma plataforma de divulgação de projetos para o bem maior em vários países.
Vamos conhecer um pouco mais sobre essa mulher que inspira outras mulheres? Confira a entrevista completa com Maria Alice Medina!
Conta a sua história com o Rock in Rio? Como está sendo essa marca de 40 anos do festival?
Fui casada 28 anos com Roberto Medina, que é pai de dois filhos meus, Juntos nós criamos o Rock in Rio, em um momento de transição política do Brasil. Uma noite, em uma conversa familiar, conversamos sobre questões que ele gostaria de fazer, mas que naquele cenário ele não conseguia. Ele se sentiu provocado, passou uma noite em claro e no dia seguinte me falou “Vamos fazer um grande festival, usando a música como instrumento de paz”. E a partir daí começamos juntos a elaborar o Rock in Rio. E hoje estamos comemorando 40 anos. Felizmente o festival nunca perdeu o seu propósito social e a intenção de fazer um evento bonito, grande e correto profissionalmente. Por isso, cada vez que a gente pode reafirmar esse propósito é muito bom.
E a sua relação com a família e sua trajetória?
Sou filha única de pai português e mãe baiana. Sempre quis viajar muito, sou libriana e a minha vida inteira sempre fui festeira. Minha família sempre foi muito de eventos e acolhimento aos amigos. Quando conheci o Roberto, que também vinha de uma vida de realizações, o encontro foi muito especial. Estou separada do Roberto há mais 20 anos, mas temos uma relação civilizada, passamos natal juntos. Ele está casado com outra pessoa. Meus filhos trabalham com eles. Somos todos muito amigos. Somos uma família muito saudável.
O Rock in Rio cresceu no propósito social do evento e eu também cresci como pessoa, sempre gostei de ser útil e ajudar. Hoje sou palestrante e mentora de pessoas.
Sobre a busca pelo autoconhecimento? Quando teve a virada de chave?
Depois que o Rock in Rio se estabeleceu eu percebi que ali não era mais o meu caminho. Decidi estudar mais, fazer mais uma faculdade, a fisioterapia e ali fiz escolhas a meu favor. O sonho do outro já estava sendo realizado com muita expertise e profissionalismo e eu precisava viver o meu sonho. Então eu fui estudar e estabelecer um consultório. Só depois decidi fazer o Caminho de Santiago, que conheci através do Paulo Coelho e a Cristina, que são grandes amigos meus. Busquei ser a melhor profissional, viajava muito fazendo palestras e o caminho veio acrescentar qualidade na minha vida. Foi uma experiência fantástica. A virada de chave foi quando eu realmente decidi seguir o caminho só, sair da zona de conforto. Sair do conforto físico, o luxo, para buscar também o conforto emocional e um propósito de vida.
E sobre o Caminho de Santiago? Como despertou para essa jornada?
Levei dez anos para pisar no caminho pela primeira vez. E a experiência de estar em um lugar de busca pessoal, sem as máscaras da sociedade. Sem os “adereços” que a gente usa para ficar bonita (secador, cremes), nada disso funciona lá. Sempre fico em albergue, já dormi em locais com várias pessoas, sem luxo. Nunca tive problemas. Minha mochila literalmente é cada vez mais leve. Pois sei que não preciso carregar o mundo nas costas. Sou completamente encantada com essa experiência. Nessa hora que você se dedica a você mesmo são vários os sentimentos. Você ri, você chora, você se liberta. A experiência peregrina é uma experiência que fica para a vida.
Você se acha um mulherão? O que é ser um mulherão para você?
Não. Eu me acho uma mulher forte, uma mulher com propósito, com presença, com uma personalidade que aparece e se nota. Com um propósito de vida muito claro de ser útil e cuidar do meu semelhante. De ampliar o meu conhecimento. Sou uma pessoa curiosa. Acho que minha alegria de viver é trocar conhecimento, isso me faz ser uma pessoa consistente. Não uso essa palavra “mulherão” para traduzir qualidades de personalidades. Uma mulher de valor é a que se respeita, que tem coragem, que enfrenta o medo e que tem propósito.
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