Mãe Manu da Oxum promove iniciativas na luta contra o preconceito religiosoDivulgação

Em 2024, o Ministério dos Direitos Humanos registrou 2.472 denúncias de intolerância religiosa - 990 a mais do que em 2023, quando foram registradas 1482 queixas. Hoje, no Dia Nacional Contra a Intolerância Religiosa, reforçamos a urgência em combater esta violência. Esta é uma luta de todos nós, precisamos mostrar a importância do respeito para todas as crenças.
Instituída em 2007, a data teve origem por conta de um dos casos mais emblemáticos de racismo religioso do país, quando o terreiro de Mãe Gilda, em Salvador, sofreu um ataque, resultando na morte da mãe de santo. Uma mulher que perdeu a vida por conta do preconceito.
Para destacar a luta contra a intolerância, no nosso mulherão de hoje conversamos com Emanuele Carvalho, mais conhecida como Mãe Manu da Oxum. Ela tem 45 anos e promove várias iniciativas inspiradoras pela causa. Seu templo, em Guaratiba, na Zona Oeste do Rio, o “Tsara Paixão Cigana”, recebeu em 2024 o título de Utilidade Pública (Lei 8.302).
Emanuele é autora de livros sobre o tema e idealizadora de diversos eventos culturais que reforçam a valorização dos povos das religiões de matrizes africanas e o bem-estar da comunidade. Ela também é presidente do Instituto Axé Mulher, que é Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial da Cidade do Rio de Janeiro (Lei 8.731).
Vamos conhecer um pouco mais sobre essa mulher que inspira outras mulheres? Confiram a entrevista completa.
Você já sofreu preconceito religioso?
Infelizmente, sim. Em um ambiente que, na época, era considerado familiar, mas hoje não mais. No meu antigo trabalho passei por situações marcantes. Como quando minha antiga gerente jogava óleo ungido onde eu passava ou quando algumas pessoas se recusavam a comer a comida que eu preparava, alegando que era "da Mãe Manu, a macumbeira".
Qual o papel das mulheres na luta contra o preconceito religioso?
Nós, mulheres, somos o útero que gera, a mente que cria e educa. Somos maioria nas religiões e nos projetos sociais e temos uma fala articulada e própria sobre o ato da fé. Seja qual for a religião, a comunhão das mulheres por meio da espiritualidade move o mundo. Além disso, temos um dom de acolhimento único, e a mulher, por essência, é força, resistência e fé.
O que ainda falta para acabarmos com a intolerância religiosa?
Falta punição à altura da ignorância. Respeito deveria ser o padrão, algo natural, mas infelizmente não é. O preconceito nasce de duas fontes principais: a falta de oportunidade em uma sociedade que reproduz discriminações culturais e um pensamento engessado e doentio. Já passamos do tempo de apenas explicar sobre a laicidade do Estado e o caráter criminoso da intolerância. Está na hora de ver essas pessoas sendo responsabilizadas, cumprindo pena e pagando pelos danos emocionais que nos causam. Muitos acabam sofrendo depressão ou até mesmo outros agravos irreversíveis por conta dessa violência.
Qual a importância de uma data voltada para essa luta?
A existência de uma data e de eventos dedicados a essa causa nos dá lugar de fala e mostra que temos propriedade para abordar essas questões. Assim, ocupamos espaços, demonstramos nossa capacidade de dialogar e mostramos o quanto estamos em pé de igualdade em termos de valores, capacidade e conhecimento. Além disso, esses espaços nos permitem reforçar que precisamos trabalhar juntos, evitando que nos vejamos como adversários. Afinal, quem tenta nos calar ainda ocupa lugares de privilégio. A união entre nós é essencial para alcançar progresso e êxito nessa luta.