Aulas na Gávea abrem as portas para jovens que residem em comunidades no entorno da universidade - Gilvan de Souza
Aulas na Gávea abrem as portas para jovens que residem em comunidades no entorno da universidadeGilvan de Souza
Por O Dia
Prestes a completar 38 anos de existência, o Núcleo de Estudo e Ação sobre o Menor (NEAM) foi fundado na PUC Rio com o objetivo de abrir as portas da tradicional universidade para os jovens das comunidades ao redor da unidade na Gávea, Zona Sul carioca. Com milhares de profissionais e vidas formadas, o projeto agora tem como um dos seus carros-chefes o curso técnico de formação em Audiovisual e Informática.

Fruto de uma parceria com a Naturgy e com o Departamento de Comunicação Social da PUC, o curso teve início em fevereiro e é voltado para jovens de 14 a 18 anos que estejam cursando o Ensino Médio em alguma escola da rede pública do Rio. A preocupação do projeto com o desempenho escolar vai além do controle de frequência das aulas: é preciso apresentar boas notas para se manter apto ao projeto.

"As notas são acompanhadas e avaliadas individualmente a cada semestre para saber como foi o desempenho do aluno na escola. Se o desempenho está bom ou se ele precisa de reforço em alguma matéria específica. Não queremos que o aluno reprove na escola por estar no curso. É preciso conseguir conciliar as duas atividades", explica a professora Marina Moreira, uma das fundadoras do NEAM.

A ideia é que o aluno já saia qualificado do curso para trabalhar como assistente de câmera, edição ou até mesmo produzindo conteúdo como cinegrafista. Além do ensinamento técnico, todos têm noções de empreendedorismo para abrir seu próprio negócio no segmento.

As aulas mais tradicionais também estão na grade curricular, como inglês técnico - para manusear corretamente os equipamentos utilizados -, literatura, interpretação de texto, construção de roteiro, ética, matemática e reforço escolar, caso o aluno esteja com alguma dificuldade no Ensino Médio. Além de preparar profissionais para o setor audiovisual, o curso também tem como filosofia ajudar na formação do ser humano.

Davison Coutinho é ex-jovem do NEAM e graduou-se em Design – Comunicação Visual, pela PUC Rio, em 2013. Atualmente, é assistente da coordenação do Núcleo e professor de extensão do CCE da PUC. Ele explica que são várias etapas para conseguir entrar em alguns dos cursos promovidos pelo programa.

"Existe um processo seletivo, já que a procura é muito grande. Os cursos são oferecidos para alguns alunos que se destacam nos cursos de férias. Além disso, é preciso se enquadrar em algumas exigências, como faixa de renda familiar, frequência e notas boas na escola etc. É quase como uma vaga de emprego", compara.

A parceria contemplará quatro turmas, com duração de um ano, cada, e 25 alunos por classe. Ao fim do projeto, 100 jovens estarão qualificados para entrar no mercado de trabalho.

João Batista é um dos alunos da primeira turma do curso, com previsão de se formar em dezembro. As aulas e o universo do audiovisual e transformaram o destino do jovem de 17 anos que cursa o terceiro ano do Ensino Médio. Ao ponto de ele mudar a sua escolha por uma profissão no futuro:

"Eu não fazia a menor ideia de que me interessaria por essa área. Foi mágico. Queria cursar engenharia química, muito distante do audiovisual. Bastaram três aulas para saber que eu queria isso para a minha vida", comemora.

Um dos professores da turma também é um ex-jovem do NEAM e testemunha de como o projeto transforma vidas. Rafael Trota largou o sexto período de Administração na própria PUC para recomeçar tudo na área do Design. Deu tão certo que, hoje, antes mesmo de estar formado (está no último período), ele já consegue repassar seus ensinamentos para os alunos.

"Nunca passou pela minha cabeça ser professor. Depois de algumas experiências que eu tive através do NEAM, essa virtude foi aparecendo e hoje, por conta desse contato mais intenso com a turma, já penso em seguir como professor na área", afirma.

Diferentemente de Rafael, Bruno de Amorim já tinha planos de se tornar professor. Porém, não imaginava que fosse acontecer tão cedo. “Curti muito essa experiência e sempre aprendo muito com eles, que são bastante interessados e engajados. É uma sensação muito boa, de troca de conhecimentos, tanto para eles quanto para mim".

Já a experiência no audiovisual é tão imersiva que até possibilita novos caminhos profissionais de imediato para os estudantes. Caso de Tiago dos Santos, de 18 anos. "O curso mudou e vai mudar muito a minha vida. Através dele consegui abrir meu site sobre produção de conteúdos digitais. Aqui nos ensinam a pensar de forma criativa para criar um conteúdo diferente dos demais. Considero isso essencial para o empreendedorismo digital", diz.

Os ensinamentos técnicos acabam ajudando até a despertar potenciais talentos. No segundo ano do Ensino Médio, Ludmilla Modesto, de 16 anos. cogita virar Youtuber. "Estou pensando em abrir um canal para mostrar a minha rotina e falar sobre o pré-vestibular que eu vou fazer. Quero tentar ajudar as pessoas que estão passando pelo mesmo desespero do Enem como eu", diverte-se ela, que pretende cursar Medicina, mas afirma que levará os conhecimentos adquiridos no NEAM para o resto da vida.