Jerônimo grava videoaulas de biologia nos ambientes externos de casa, para suprir a falta das saídas de campo - Reprodução
Jerônimo grava videoaulas de biologia nos ambientes externos de casa, para suprir a falta das saídas de campoReprodução
Por Maria Clara Matturo*

Com expectativa de volta às aulas para as próximas semanas e desdobramentos para se adaptarem às aulas online, professores se reinventam e criam projetos solidários. Os dias que antes eram ocupados por salas de aula, quadros e alunos falantes, agora foram substituídos por uma tela de computador e, muitas vezes, uma rotina solitária. No entanto, o cenário da desigualdade de acesso, escancarado pela pandemia, foi o fator motivador que faltava para os profissionais da educação passarem a doar seu tempo nas telinhas.

"Se quisermos mudar o Brasil, ações como essa são necessárias", afirmou Jeronimo Loureiro, que é professor de Biologia em Porto Alegre. Depois de receber um treinamento da escola privada em que dá aula, para se sair melhor com as ferramentas que oferecem aula a distância, o professor abriu turmas online para alunos da rede pública de todo país e hoje já tem mais de 650 estudantes cadastrados. A iniciativa já conta com professores de diversas disciplinas, todos voluntários.

"Percebi que meus alunos de escola privada estavam recebendo conteúdo de ótima qualidade, enquanto os alunos da rede pública sequer tinham aula. Isso é inconcebível. No final do ano eles vão disputar Enem com alunos de escola particular, o que já é um abismo. Começou a me preocupar viver num país cada vez mais desigual, então eu decidi fazer o pouco do que está ao meu alcance, que é dar aula pra esses alunos", explicou.

Preparar melhor os alunos para o Enem também foi o que motivou os professores Ana Paula dos Santos e Luís Felipe Ferreira a criarem o '2 em Um' nas redes sociais. A dupla, que é casada na vida real e profissional, dá dicas de estudo, tira dúvidas e ensina os estudantes como ter uma rotina de aprendizado eficaz.

"Percebemos que tínhamos na mão 50% da aprovação do Enem, que é Português e Matemática, então por que não oferecer um espaço para os alunos encontrarem um ensino personalizado com essas disciplinas?", explicou Luís.

"Queremos ensinar o aluno a aprender, porque existe uma grande diferença entre assistir aula e aprender. Tem aquele aluno passivo que tá ali assistindo, mas só vai aprender de fato se começar a ter hábitos de estudo", reforçou Ana.

Como se adaptar ao 'novo normal'
Além de serem casados, Luis Felipe e Ana Paula trabalham juntos e estão usando as redes para darem dicas de estudo
Além de serem casados, Luis Felipe e Ana Paula trabalham juntos e estão usando as redes para darem dicas de estudoArquivo pessoal
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Uma das principais preocupações dos professores sobre o retorno às salas de aula é a carga emocional que vai acompanhar esses alunos no pós-pandemia.
"Embora a tecnologia esteja dominando, agora confirmamos uma certeza: a escola tem um papel fundamental na nossa vida, como espaço de convivência, de interação, não só de formação intelectual, mas também no crescimento socioemocional construído pela criança e pelo adolescente", explicou o professor Luís Felipe.
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Para aumentar as chances de um retorno mais saudável, a professora de psicologia do IBMR Thais monteiro orientou: "É preciso ter uma união de toda a comunidade escolar para conversarem sobre as inseguranças e expectativas. Outro ponto é o professor escutar os medos dos alunos, compartilhar seus medos também para criar um vínculo maior com eles. É muito importante verbalizar os sentimentos".
Thais também reforçou a necessidade de um retorno gradual para evitar outra mudança bruta de realidade. "Esse período de transição é necessário para que a gente se adapte a mais um dinâmica nova que teremos pela frente, porque com certeza não será igual", ela concluiu. 
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Estudo independente pode fazer a diferença
Além de serem casados, Luis Felipe e Ana Paula trabalham juntos e estão usando as redes para darem dicas de estudo
Além de serem casados, Luis Felipe e Ana Paula trabalham juntos e estão usando as redes para darem dicas de estudoArquivo pessoal
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Uma das estruturas mais pensadas para possibilitar a retomada das escolas é o rodízio de alunos. Com este modelo, alguns alunos iriam às aulas presenciais enquanto outros permaneceriam assistindo as aulas remotas, invertendo os papéis em um determinado período de tempo. Por isso, os especialistas reforçaram a necessidade de tornar o estudo independente uma ferramenta eficaz. 
"Estamos promovendo uma aprendizagem em que o jovem se deu conta que precisa ter essa autonomia, se ele não fizer, ninguém vai fazer no lugar dele", explicou a professora Ana Paula. 
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O hábito de manter uma rotina normal pode ser um grande aliado, segundo o professor Luis Felipe, que orientou: "O primeiro ponto é manter uma rotina de estudo, como se estivesse na escola. Quando o aluno vai pra escola, se arruma, isso ativa o cérebro, então é preciso manter isso dentro de casa, por mais difícil que seja. Outro ponto que precisa acontecer são estratégias de estudo, ele não precisa estudar o dia todo, mas quando estudar precisa de direcionamento. O aluno assiste aula e entende o conteúdo, depois faz um resumo, seguido de um exercício e por fim uma revisão. Isso é um exemplo de método de estudo que ajuda o aluno a aprender de fato".
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