Rio - O governador reeleito Luiz Fernando Pezão (PMDB) não enfrentou apenas um adversário na reta final da campanha eleitoral, mas os três mais votados do primeiro turno, que decidiram se unir contra o peemedebista. A derrota tem um sabor diferente para cada integrante do trio: Marcelo Crivella (PRB), Anthony Garotinho (PR) ou Lindberg Farias (PT).
A mais amarga foi sentida pelo ex-governador Garotinho, superado por Crivella por menos de um ponto percentual no primeiro turno, quando os principais institutos de pesquisa davam como certa a sua ida para o segundo turno. Sem mandato a partir do ano que vem, Garotinho deixará a Câmara dos Deputados e se dedicará ao programa de rádio que mantém na cidade de Campos.
O insucesso enfraquece o ex-governador para novas disputas para o Executivo, mas deixa intacto o poder de seu clã. Sua filha Clarissa, segunda deputada federal mais votada, se credencia como um dos principais nomes da oposição e forte candidata a disputar a Prefeitura do Rio daqui a dois anos.
O senador Lindberg Farias, por sua vez, não conseguiu fazer sua candidatura decolar. O petista rompeu a aliança regional de seu partido com o PMDB e criou mal-estar entre integrantes das duas cúpulas. Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva ficaram numa saia justa e pouco se engajaram na campanha do correligionário. O seu consolo é que terá mandato até 2018, e deve concorrer em outras eleições para o Executivo.
Sem conseguir alianças em torno de sua candidatura e com pouco tempo de televisão no primeiro turno, Crivella chegou pela primeira vez ao segundo turno de uma disputa para o Executivo. O candidato já perdera dois pleitos para prefeito do Rio e um para governador, apesar das boas votações para o Senado, em que foi eleito e reeleito com mais de três milhões de votos. O resultado expressivo contra Pezão lhe dá respaldo para tentar outras eleições para o Executivo.
Senador do PRB buscará o ‘terceiro turno’ na Justiça: quer condenar Pezão
Superado por Luiz Fernando Pezão (PMDB) no segundo turno, Marcelo Crivella (PRB) afirmou que acompanhará o julgamento dos processos de cassação de registro a que seu adversário responde no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ). Caso o peemedebista obtenha êxito, Crivella tentará um ‘terceiro turno’ no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
“Em nome de cada eleitor que votou em mim, vou à Justiça, porque há treze pedidos de cassação do Pezão. Acho prematuro ele comemorar a vitória”, disse Crivella, em coletiva após a divulgação do resultado do pleito. Ele afirmou que nove das ações foram propostas pela Procuradoria Regional Eleitoral. Em caso de cassação, Pezão perderia o diploma e assumiria o segundo colocado na disputa, no caso, Crivella.
“Nossa luta continua, agora nos tribunais. Se formos derrotados no TRE, meus advogados recorrerão ao Tribunal Superior Eleitoral. Lá em Brasília, o julgamento estará livre de influências regionais”, declarou o senador do PRB.
Crivella afirmou ainda que a conduta do peemedebista no último debate da TV Globo deveria tê-lo levado à prisão. “Pezão anunciou que fez um site de maledicências e declarou isso no debate. Nunca se viu isso. Um réu confesso. Em outra situação, tinha que sair algemado de lá. É um absurdo”, disse, reconhecendo que os ataques do PMDB — que reforçaram seus laços com a Igreja Universal do Reino de Deus e levantaram suspeitas sobre a instituição — surtiram efeito e frearam seu crescimento.
O senador disse ver na reeleição da presidenta Dilma Rousseff (PT) um alento. “Estou pesaroso pela derrota, mas a vitória da Dilma compensa a tristeza. Ela garante o avanço do salário mínimo, do pré-sal e do Bolsa Família.”
O marqueteiro de Crivella, Lula Vieira, afirmou que se tratou de uma luta de Davi contra Golias em termos de recursos financeiros. “O Davi quase ganhou do Golias. Conseguiu passar do primeiro turno. Solidifica-se um político muito importante no estado do Rio, que é o Crivella. Antes desta eleição, ele era conhecido de apenas um segmento. O Pezão ganhou, mas o Crivella não perdeu”, disse.
O dia do candidato do PRB começou cedo. Ele chegou pontualmente às 9h do domingo para votar no Clube Marimbás, no Forte de Copacabana. Ao lado da mulher Sylvia Jane e dos dois filhos, entrou na seção e espalmou as mãos no alto para fazer o número dez, que simboliza a sua candidatura. Depois, Pezão seguiu de carro para a comunidade do Jacarezinho.