Irreverente, engraçado, extrovertido, folclórico, polêmico… existem muitos adjetivos para definir Túlio Maravilha, mas nada chega perto de artilheiro raiz. Sem dúvidas, o ex-camisa 7 do Alvinegro está na história, não só do clube de General Severiano, mas também do futebol brasileiro, seja pelas frases provocando os rivais da época, a autopromoção ou pelo seu caderninho de anotações que aponta 1001 gols marcados ao longo de sua carreira. Em conversa com o Contra-Ataque, o ex-jogador de 55 anos relembrou momentos pelo Fogão, principalmente a conquista do Campeonato Brasileiro de 1995, além de comentar o atual cenário nacional.
“O título de 1995 representou um marco. Graças àquela conquista, com o meu gol na final, nos dois jogos, me consagrei como um dos maiores ídolos da história do Botafogo”, inicia Túlio. A temporada realmente está na história do ex-camisa 7 do Botafogo.
“Também fui artilheiro do Campeonato Carioca, onde o Renato Gaúcho foi campeão junto com o Fluminense com o gol de barriga. Eu fui o maior artilheiro da temporada, fiz 63 gols de janeiro a dezembro, sendo um dos maiores recordes da história. Então, 1995 representou tudo para mim. Hoje, sou o que sou graças aquele título inesquecível.”
Túlio marcou 27 vezes no Cariocão, 23 no Brasileiro e 13 pela Seleção Brasileira.
Atacante marcando?
Com o passar do tempo, o futebol mudou. Hoje, exige-se mais dos jogadores da frente, inclusive, que voltem para marcar, pressionem os zagueiros, acompanhem os laterais, que sejam os primeiros defensores da equipe. Túlio relembra que na campanha de 1995, já fazia essa função.
“Por incrível que pareça, o Paulo Autuori tinha um esquema que eu voltava para marcar, principalmente, os volantes. E deixava os zagueiros saírem jogando. Eu acredito que hoje em dia eu iria fazer muito bem essa função de pressionar, e também faria muitos gols porque muitos zagueiros e goleiros iam acabar entregando a bola nos meus pés. Seria até mais fácil do que no passado. Eu ia me dar muito bem, ia fazer muito mais gols que eu fiz em 1995”, conta.
Frieza na frente do goleiro
Com os campos "reduzidos" por conta da marcação alta e menos espaço para jogar, Túlio imagina que se beneficiaria com o formato utilizado hoje em dia. "Quando você rouba a bola, está praticamente na cara do goleiro. E aí depende muito da técnica. Vejo muitos atacantes que não têm aquela frieza como eu tinha, o Romário, Ronaldo Fenômeno. Então, com certeza, nesse futebol atual eu iria fazer de 80 a 90 gols numa temporada porque ia ter muito mais jogos e muito mais oportunidades de marcar", avalia
Ganharia muito mais em tempos de internet
As provocações tomavam conta dos noticiários antes dos jogos na década de 1990. Túlio sempre foi daquele tipo de jogador que falava e se garantia dentro das quatro linhas. As falas "viralizaram" em um período sem redes sociais, a repercussão se dava por jornais, programas de tv e rádio. Já imaginou como seria hoje em dia? "A gente fazia marketing pessoal, promovia os jogos, fazia provocações sadias, e isso chamava o torcedor para o campo. Hoje, com as redes sociais, com certeza, qualquer entrevista, qualquer gol ou atuação de gala, ia viralizar e o mundo todo ia te conhecer muito mais. A visibilidade com a rede social nem se compara. Se tivesse isso tudo naquela época, eu estaria milionário, ganharia, por baixo, uns R$ 5 milhões só de publicidade, sem contar salário de clube."
Cadê os artilheiros?
Túlio é de uma época onde o futebol brasileiro tinha muitos atacantes de qualidade. A briga pela camisa 9 da Seleção, por exemplo, era intensa. Em 1995, aqui no Rio tínhamos, além do camisa 7, Donizete no Botafogo, Renato Gaúcho no Fluminense, Romário e Edmundo no Flamengo, e Valdir Bigode no Vasco, mas eram inúmeros os jogadores que faziam a função.
"Na década de 1990, o futebol brasileiro era recheado de grandes camisas 9. Infelizmente, passamos por uma entressafra. Dos grandes goleadores, o Cano é argentino, Vegetti também. Só tem o Pedro, que é aquele artilheiro raiz do Flamengo", analisa.
"O Botafogo tem o Tiquinho Soares, que não está em um bom momento, mas logo volta a ser um grande artilheiro. Então, isso é um reflexo na Seleção Brasileira, que não tem aquele 9 referência, como tinha com Viola, Romário, Bebeto, Luizão, Evair, Careca e tantos outros. Infelizmente o futebol brasileiro está carente de um matador", finaliza.
Presente e passado do Fogão
Artilheiro por onde passou, Túlio tem total credibilidade para falar dos atacantes do elenco atual do Botafogo.
"O Tiquinho e o Júnior Santos, jogando desde o ano passado, já estão com um entrosamento bastante considerável. Os dois sempre alternando bons e maus momentos. No ano passado, o Tiquinho foi o goleador. O Júnior Santos era mais o garçom, e esse ano está ao contrário", diz o ex-jogador, que ressalta que a dupla pode entrar para a história do Fogão, mas para isso precisa de uma coisa: título.
"A principal diferença é que Donizete e Túlio era um casamento perfeito, aquela dupla era mais mortal, tínhamos mais regularidade. Dificilmente eu ficava mais de dois jogos sem marcar. E o Donizete da mesma forma, sempre dando assistência. Por isso, considero aquela dupla como uma das melhores de todos os tempos da história do Botafogo. Mas o Tiquinho e Júnior Santos também podem entrar nesse seleto grupo. Se forem campeões, claro", conclui.
A hora do Botafogo vai chegar
Depois da campanha do ano passado, Túlio acredita que o momento do Botafogo está chegando. Não vai demorar para o time ser campeão. "Eu acredito que o ano passado foi uma lição de muito aprendizado. O Botafogo tinha tudo, praticamente o título na mão e deixou escapar na reta final. Já esse ano, com os pés no chão, com humildade e, principalmente, regularidade, acho que esteja mais preparado para quando chegar na reta final do Brasileirão possa brigar pelo título", frisa.
"Como bom torcedor botafoguense, nunca podemos deixar de torcer até o final. Acredito que em breve, se não for esse ano, ano que vem, no máximo, o Botafogo vai conseguir esse título, que há quase 30 anos não conquista."
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