Enquanto estreia no Mundial de Clubes no formato atual, na segunda-feira às 15h (de Brasília), o Fluminense busca o reconhecimento junto à Fifa de sua primeira conquista no cenário mundial, a Copa Rio de 1952. Em uma época em que não havia Libertadores e Liga dos Campeões, o Tricolor enfrentou campeões nacionais de ligas da Europa e do Uruguai e foi campeão invicto.
O torneio, também conquistado pelo Palmeiras em 1951, recebeu o nome da cidade do Rio por ser a apoiadora financeira e que ajudou a tirar a Copa do papel. Em dossiê entregue à Fifa, o Fluminense sustenta que a própria entidade aprovou a competição, numa tentativa de manter o futebol em alta no Brasil.
"A Copa do Mundo de 1950 foi um sucesso de público, mas, como o país-sede não foi campeão, surgiu um temor de o esporte perder um pouco do clamor pelo país. A Copa Rio, então, manteve o Brasil no cenário internacional do futebol. Esses campeonatos foram precursores de tudo o que se passou a ver interclubes anos depois, e tiveram a chancela da Fifa", afirmou o jornalista Daniel Cohen, coordenado do departamento Flu-Memória.
"Todos os árbitros eram do quadro oficial da Fifa, assim como a bola da competição. A entidade tinha total interesse em ver o futebol crescer e se expandir pelo país".
Há 71 anos, para sempre. Em um 2 de agosto, os heróis da Copa Rio eternizaram seus nomes na história Tricolor – o empate em 2 a 2 com o Corinthians garantiu o título mundial no Maracanã! pic.twitter.com/7f6pPrBX1E
Esse é apenas um dos argumentos. Outro é a relevância dos oito clubes participantes. Em 1952, foram convidados campeões em seus países no ano anterior. Sporting, de Portugal, Grasshoppers, da Suíça, e Peñarol, do Uruguai, vieram.
Também participaram os vices da Áustria (Áustria Viena), da Alemanha Ocidental (Saarbrücken, que substituiu o campeão Sttutgart, que não pôde viajar) e do Paraguai (Libertad). Campeões na Itália e na Argentina, Juventus e Racing não aceitaram o convite.
"Só clubes gigantes de países fortes no esporte foram convidados para participar. Áustria (terceiro lugar na Copa de 1954) e Suíça, por exemplo, foram grandes potências europeias no início dos anos 1950, assim como eram Brasil e Uruguai pela América do Sul", lembra Cohen.
Num Brasil sem liga nacional, os representantes foram os campeões do Carioca e do Paulista de 1951: Fluminense e Corinthians. Os dois clubes, inclusive, fizeram a final vencida pelos tricolores no Maracanã, com uma vitória por 2 a 0 e um empate em 2 a 2.
E jornais da época chamaram o Tricolor de campeão do mundo, em suas manchetes. Outro argumento utilizado pelo clube.
Ídolos do Fluminense no time
A importância dessa conquista, para o Fluminense, também se baseia na equipe formada por grandes nomes da história, como Castilho, um dos maiores ídolos e que dá nome ao CT, Pinheiro, Orlando Pingo de Ouro, Telê e Didi. E o time foi imbatível em campo.
Além da final, outro jogo marcante foi a vitória na fase de grupos por 3 a 0 sobre o Peñarol, base da seleção do Uruguai que derrotou o Brasil na final de 1950, inclusive com o carrasco Ghiggia.
"A vitória por 3 a 0 sobre o forte Peñarol, que tinha Ghigia e Schiaffino no time, foi muito marcante. Não apenas por ser, de certa maneira, uma vingança pela traumática derrota brasileira dois anos antes, mas em especial por ter coincidido com os festejos pelos 50 anos do Fluminense", recorda Cohen.
E numa campanha irretocável, além do empate que garantiu o título, o Tricolor só não venceu na estreia, quando ficou no 0 a 0 com o Sporting. No resto, superou os uruguaios, os suíços do Grasshoppers e, por duas vezes, os austríacos do Áustria Viena.
Comandado por Zezé Moreira, o treinador com mais jogos disputados pelo Fluminense (482), o time era formado por: Castilho; Píndaro e Pinheiro (Nestor); Jair, Édson e Bigode; Telê (Robson), Didi, Marinho, Orlando e Quincas.
Como anda o processo na Fifa
Diante do que foi o torneio, o Fluminense aproveita a disputa do Mundial de 2023, na Arábia Saudita, para reforçar a campanha para que a Copa Rio de 1952 seja considerada como o primeiro título mundial do clube.
Quando a conquista completou 60 anos, em 2012, oFluminense passou a trabalhar por esse reconhecimento. Buscou aumentar a divulgação da história e colocou frases e patches fazendo referência ao título nas camisas .
Em paralelo, a diretoria deu o passo mais importante em 2016, quando enviou o primeiro ofício à Fifa. E em 2021, o presidente do clube, Mário Bittencourt, contou com o apoio do presidente da CBF à época, Rogério Caboclo, para enviar um documento à entidade e também à Conmebol, buscando o reconhecimento.
A Fifa já considera a Copa Rio com a mesma importância da Copa Intercontinental, disputada entre 1960 e 2004. E no ano passado, a entidade máxima do futebol chegou a escrever numa matéria em seu site sobre o título de 1951 do Palmeiras, como campeonato mundial.
Mas o objetivo é que a Copa Rio passe a ser considerada oficialmente o primeiro título mundial do Fluminense.
Veja como foi a campanha do Fluminense na Copa Rio de 1952
Grupo A (Rio de Janeiro) Fluminense 0x0 Sporting (Portugal) Fluminense 1x0 Grasshoppers (Suíça) Fluminense 3x0 Peñarol (Uruguai)
Semifinal contra o 2º colocado do Grupo B (São Paulo) Fluminense 1x0 Áustria Viena (Áustria) Fluminense 5x2 Áustria Viena
Final Fluminense 2x0 Corinthians Fluminense 2x2 Corinthians
- 7 jogos, com 5 vitórias e 2 empates. Foram 14 gols marcados e 4 sofridos.
- Marinho e Orlando Pingo de Ouro, ambos do Fluminense, foram os artilheiros do torneio, com sete gols cada.
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