Por marta.valim
"Não faltam recursos para financiar a infraestrutura. Mas se o cronograma do governo for cumprido, no futuro, pode faltar dinheiro barato", diz Alberto Zoffmann, diretor do Itaú BBAPatricia Stavis

Os bancos sugeriram ao governo a utilização de depósitos compulsórios como fonte mais barata de recursos para financiar projetos de infraestrutura. A informação foi dada ontem por Alberto Zoffmann, diretor da área de financiamento de projetos do Itaú BBA, durante sua palestra na Semana de Infraestrutura, promovida pela Fiesp e Firjan em São Paulo.

“Não está faltando recursos. Mas se o cronograma de leilões de concessões do governo for seguido à risca, pode faltar. E esses recursos dos depósitos compulsórios, tanto à vista quanto sobre a poupança, que hoje não são remunerados ou recebem uma taxa muito baixa, poderiam ser uma fonte barata para esses financiamentos”, diz o executivo. A vantagem sobre recursos do BNDES é não aumentar o déficit fiscal, já que o dinheiro não sairia dos cofres públicos - na semana passada, por exemplo, o presidente do BNDES Luciano Coutinho pediu mais R$ 30 bilhões ao Tesouro.

Zoffman explicou que a ideia não é usar todos os recursos dos compulsórios, que servem para garantir segurança ao sistema. Atualmente, os bancos no país são obrigados a guardar no Banco Central 44% do volume de depósitos à vista, sem receberem remuneração por isso. O volume de recolhimentos compulsórios atingiu R$ 397 bilhões em 16 de maio, dos quais R$ 65,6 bilhões à vista e R$ 120,4 bilhões na poupança.

Segundo Zoffmann, se a economia crescer 5% ao ano o país precisaria poupar 25% do PIB, e o setor privado teria que bancar cerca de R$ 1 trilhão dos recursos necessários para financiamentos a infraestrutura até 2016. Nesse cenário, qualquer liberação de compulsório já seria de grande ajuda, diz o executivo.

O Itaú BBA tem uma carteira de R$ 10 bilhões em financiamentos a infraestrutura - são recursos já desembolsados neste ano. O banco está assessorando um dos consórcios que concorrem ao leilão da rodovia 153, que acontece amanhã.O executivo não quis revelar o nome mas deu pistas de que seria o da EcoRodovias com Queiroz Galvão. Por enquanto, o Itaú BBA não participou de nenhum projeto de rodovia - se seu cliente ganhar, pode ser o primeiro. “Gostamos de bons projetos”, diz. Segundo o executivo, nos próximos cinco anos há uma demanda de cerca de R$ 922 bilhões em investimentos, dos quais R$ 160 em logística e o mesmo tanto em energia - mas óleo e gás será o setor que consumirá mais recursos, ou R$ 553 bilhões.

O Itaú BBA espera que suas receitas com a área de financiamento de projetos - que incluem comissões por assessoria e estruturação, bem como as taxas de juros sobre os empréstimos concedidos - aumentem 47% em 2014, depois de subirem 35% no ano passado. Ele admite, contudo, que as contratações podem diminuir neste ano, devido às eleições - o que afetaria as receitas futuras do banco. “Qualquer licitação tem que ser feita somente até o final deste mês, pois é proibido que um governo comprometa o orçamento do próximo”, lembra.

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