Estação de trem de GuapimirimDivulgação

Guapimirim – O grupo que controla os trens da SuperVia, no estado do Rio de Janeiro, desistiu das operações e devolveu a concessão ao Governo do Estado do Rio de Janeiro durante reunião com o governador Cláudio Castro (PL-RJ), ocorrida na última quinta-feira (27/4), no Palácio Guanabara.
A SuperVia opera a malha ferroviária fluminense desde 1998. Em 2019, a concessionária passou a ser controlada pela Gumi (Guarana Urban Mobility Incorporated), um consórcio de propriedade das japonesas Mitsui e West Japan Railway Company e de um fundo de investimentos local.
De acordo com a Secretaria de Transporte e Mobilidade Urbana do Estado do Rio de Janeiro, “um dos motivos que contribuiu para a desistência da concessionária foi o fato de não anteder aos padrões de exigência de performance modernos e eficientes buscados pela Setram”.
Apesar da desistência do consórcio nipônico no controle da SuperVia, a saída não será imediata. Será preciso arrumar novo acionista ou realizar uma licitação para escolher uma nova empresa para operar os serviços. E tudo isso leva tempo. Com a renúncia do grupo controlador, pode-se dizer que esse “abacaxi” foi transferido para o governo estadual, que deixa de atuar como mero espectador ou eventual agente fiscalizador da empresa para se tornar o herdeiro direto de uma crise no transporte público.
Os problemas não são apenas para a empresa, mas, principalmente, para os usuários do serviço que sofrem com a precarização da frota, atrasos e interrupções contínuas e falta de infraestrutura, de mobilidade e de acessibilidade.
Em Guapimirim, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, por exemplo, o transporte ferroviário parou no tempo, com um trem sucateado e falta de investimentos. O trilho é o mesmo para ir e voltar entre as estações de Guapimirim e de Saracuruna, em Duque de Caxias. Não existe plano B para Guapimirim.
Uma vez por mês, sempre aos domingos, é dado como certo que os guapimirienses não poderão contar com o trem para ir a Duque de Caxias ou ao Rio de Janeiro, por exemplo, porque a operação é interrompida para suposta manutenção preventiva nas linhas férrea e aérea. O mesmo acontece na extensão Vila Inhomirim, em Magé, e no trecho ente Gramacho e Saracuruna, ambos os bairros em Duque de Caxias.
Isso sem contar os casos em que o trem deu defeito, por exemplo. Entre abril e outubro de 2021, a SuperVia interrompeu por seis meses a circulação de trem na extensão Guapimirim devido a obras de reparo na linha férrea. Na ocasião, também não houve plano B, e os passageiros tiveram de utilizar ônibus e vans para chegar ao Rio, cuja tarifa, à época, custava mais de R$ 12.
Em março do ano passado, a SuperVia foi multada pelo Conselho Diretor da Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos de Transportes Aquaviários, Ferroviários e Metroviários e de Rodovias do Estado do Rio de Janeiro (Agetransp) em mais de R$ 2,2 milhões por não ter realizado investimentos previstos no contrato de concessão. Desse total, R$ 391,5 mil foi por não feito melhorias na extensão entre Saracuruna e Guapimirim.
Em janeiro de 2022, a concessionária chegou a firmar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) para tornar as estações de trem acessíveis para pessoas com deficiência. O prazo era até o ano de 2034.
A SuperVia está em recuperação judicial desde 2021 e alega prejuízos financeiros provocados pela queda de passageiros durante a pandemia de coronavírus, além dos constantes furtos de cabo. Esse tipo de crime gera despesas e interrompe a circulação de trens. Segundo a empresa, entre 2020 e 2021 houve perdas acumuladas de R$ 474 milhões.
A SuperVia opera uma malha ferroviária de 270 quilômetros dividida em cinco ramais, três extensões e 104 estações, estando presente em 12 municípios fluminenses: Belford Roxo, Duque de Caxias, Guapimirim, Japeri, Magé, Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu, Paracambi, Queimados, Rio de Janeiro e São João de Meriti.