Maris Maurat e Urias FernandesFoto: Redes Sociais

Guapimirim – Um minuto de silêncio, por favor. A morte do ex-subsecretário de Agricultura, Pecuária e Pesca de Guapimirim Urias Fernandes, de 56 anos, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, completou um ano, no último dia 22 de novembro, e foi marcada com uma missa na Capela de Santa Rita, no bairro Paiol, a poucos metros de onde ocorreu o trágico acidente, fruto da irresponsabilidade de uma condutora que dirigia seu New Beetle prateado na contramão pela Avenida Dedo de Deus, principal via do município.
O voto de silêncio perpétuo foi adotado pela ré Zilanda Genaio Costa ao longo de todas as cinco audiências que aconteceram no Fórum de Guapimirim entre agosto e novembro deste ano. Ela ganhou o direito de ficar calada. Para Maris Maurat, esposa de Urias, a acusada se beneficia com isso e não cometeria do suposto crime de perjúrio, ou seja, de mentir perante juízo, durante o interrogatório.
O silêncio é quebrado com prantos, lamentos e resmungos por parte dos familiares da vítima que expressam tristeza e decepção com algumas das testemunhas ou depoentes, entre eles com o ex-prefeito de Guapimirim Jocelito Pereira de Oliveira – Zelito Tringuelê (PL-RJ) – e com a ex-primeira-dama e ex-deputada estadual pelo Rio de Janeiro Paula Francinete Machado de Jesus, mais conhecida como Paula Tringuelê (SD-RJ).
Paula Tringuelê (SD-RJ) foi intimada como testemunha de defesa, enquanto o marido, por parte da acusação. Eles não estavam no local do acidente. A questão é outra. Era apurar se Zilanda Genaio havia consumido bebida alcóolica no sítio do casal Tringuelê, em Guapimirim, numa suposta reunião de amigos, o que poderia justificar o fato de a ré ter dirigido na contramão e colidido com a motocicleta de Urias naquele trágico 12 de novembro de 2022. Ao comentar que também era amigo de falecido, assim como de Zilanda, o casal Tringuelê foi arrolado como informante em vez de testemunha.
Em depoimento, Paula Tringuelê (SD-RJ) falou que Zilanda Genaio era evangélica, por isso, não bebia nada alcóolico, e que tinha ido ao sítio dela para convidá-la para comer pizza e que teria recusado o convite por estar na piscina com sua família. A visita da amiga teria durado aproximadamente 15 minutos, segundo a depoente. Para a viúva da Urias, a ex-parlamentar subestima a inteligência dos outros, tendo em vista que hoje em dia tem telefone, WhatsApp e Zilanda Genaio não precisaria se deslocar a vários quilômetros de sua residência até o sítio apenas para chamar alguém para lanchar.
Já Zelito Tringuelê (PL-RJ) contou que na hora que Zilanda chegou em seu sítio estava de saída para uma suposta cavalgada e que não sabia quem era a visita. Para a família de Urias, causa estranheza alguém não saber quem adentra sua propriedade e também o fato de o veículo usado pela ré não ser muito comum, um New Beetle. Além disso, o ex-prefeito comentou que havia consumido bebida alcóolica e chegado tarde em casa e que só soube do acidente no dia seguinte.
Paula Tringuelê (SD-RJ) contou que esteve no local do acidente depois do ocorrido, porque a amiga Zilanda Genaio lhe telefonou, e que a acompanhou na 67ª DP (Guapimirim). Também declarou que só ficou sabendo que a vítima era Urias Fernandes após se deparar com um dos filhos dele.
Zelito Tringuelê (PL-RJ) teve de comparecer à sessão judicial em meio à possibilidade de ser conduzido coercitivamente, pois não foi na sessão anterior do último dia 8 de novembro, conforme intimado. Politicamente, pegaria muito mal para sua imagem passar a impressão de alguém que foge da justiça. Um oficial de Justiça já tinha tentado localizá-lo em alguns endereços, no sítio em Guapimirim, numa residência em Niterói e também na empresa onde trabalha em Duque de Caxias. Naquela audiência, a fala de Paula, ao dizer perante a 2ª Vara Criminal de Guapimirim que não tinha o telefone do próprio marido causou estranheza.
Tanto Urias Fernandes quanto Zilanda Genaio trabalharam no governo do então prefeito Zelito Tringuelê, que foi de 2017 a 2020. A ré também trabalhou na campanha da ex-primeira-dama para deputada estadual em 2018 e, atualmente, comanda o Centro de Imagem da Prefeitura de Magé, na cidade vizinha.
Em entrevista ao DIA, Maris Maurat, esposa de Urias, não se conforma com o fato de que duas delegacias de polícia – 67ª DP (Guapimirim) e 60ª DP (Campos Elíseos) – tenham negligenciado o famoso teste do bafômetro, o que provoca incerteza no âmbito processual sobre condição da ré no dia do acidente. Após ser contida por populares para evitar fuga, Zilanda Genaio foi levada para a unidade policial guapimiriense e devido a conflito de declarações, para a outra delegacia em Duque de Caxias, onde funciona a Central de Flagrantes da Polícia Civil.
Apenas por ocasião do acidente que a ré quebrou o silêncio, quando tentou culpar a vítima pelo ocorrido. Ao ser confrontada por imagens de câmera de um supermercado próximo, não pôde alimentar a história de que era Urias quem estaria na contramão. Com o impacto da colisão entre o carro de Zilanda e a moto de Urias, ele foi lançado a vários metros de altura antes de cair no chão. Ele usava capacete naquele 12 de novembro de 2022.
Urias foi socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e levado para o Hospital Municipal José Rabello de Mello, em Guapimirim, para ser estabilizado. Depois, foi transferido para o Hospital Adão Pereira Nunes, em Saracuruna, Duque de Caxias, tendo ficado internado por 10 dias até o óbito. Ele teve traumatismo craniano e não resistiu aos graves ferimentos.
Somente em 22 de maio de 2023, seis meses após o óbito, que o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) denunciou Zilanda Genaio perante o Poder Judiciário. A ré está proibida de dirigir a pedido do órgão denunciante. Enquanto isso, familiares da vítima aguardam por justiça e choram de saudade pelo tempo que não viverão mais juntos com Urias, um marido e um pai amoroso, um irmão, tio e amigo querido por muitas outras pessoas.