Padres oram próximo ao caixão do presidente do Haiti, Jovenel Moïse, morto em 7 de julhoAFP
Os atos solenes foram realizados na cidade de Cabo Haitiano, no Departamento Norte do Haiti.
Moise, morto em 7 de julho por um comando armado em sua casa na capital, Porto Príncipe, era natural da região vizinha ao seu local de sepultamento, também no norte.
Policiais foram mobilizados em todas as ruas, mas não impediram, como na véspera, os episódios violentos.
Tiros foram ouvidos até mesmo de dentro do complexo onde o funeral foi realizado, obrigando alguns participantes a saírem apressadamente em meio a uma nuvem de gás lacrimogêneo disparado pela polícia.
O caixão, coberto pela bandeira nacional e pela faixa presidencial, foi exposto em uma esplanada adornada com flores, e é guardado por soldados das Forças Armadas do Haiti.
A viúva do presidente, gravemente ferida no ataque noturno, estava presente, com um braço na tipoia, após ter sido tratada em um hospital na Flórida, no sul dos Estados Unidos.
Com o rosto coberto por uma máscara e a foto de seu marido, a viúva se inclinou sobre o caixão.
"Abandonado" e "traído"
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, enviou uma delegação de alto escalão ao funeral, incluindo sua embaixadora nas Nações Unidas, Linda Thomas Greenfield, e seu novo enviado especial para o Haiti, Daniel Foote. Os funcionários, no entanto, não permaneceram muito tempo.
"A delegação presidencial está segura e completa após o tiroteio reportado durante o funeral. Todos estão de volta aos Estados Unidos", disse Jen Psaki, porta-voz da Casa Branca.
Um batalhão prestou honras militares ao chefe de Estado enquanto a cerimônia religiosa foi conduzida por cinco padres.
A viúva relembrou o marido, sua próspera carreira empresarial antes de entrar na política, e lamentou seu trágico fim, "selvagemente assassinado", "abandonado e traído".
Que crime você cometeu para merecer tal punição?, se perguntou. “Ele estava bem ciente dos vícios desse sistema podre e injusto”, afirmou. "Um sistema que, antes dele, poucos quiseram enfrentar."
Seus elogios contrastam com a forte desconfiança que Moise despertou em grande parte da população antes de sua morte. Muitos o acusavam de inércia diante da crise e de uma postura autoritária.
Tensões
Mais de 20 pessoas foram presas pelo ataque, a maioria colombianos, e a polícia afirma que o plano foi organizado por haitianos com ligações fora do país e ambições políticas.
Presente em Cabo Haitiano, o diretor-geral da Polícia Nacional, Léon Charles, foi vaiado na quinta-feira enquanto supervisionava as operações de segurança do funeral.
Os haitianos o criticam por não ter sido capaz de proteger o presidente Moise, cuja morte reacendeu tensões históricas entre o norte do Haiti e o oeste, onde fica a capital, Porto Príncipe.
Entre outros fatores, existe um antigo antagonismo entre os negros descendentes de escravos do norte e os mestiços, também chamados mulatos, do sul e do oeste.
Os moradores chegaram a erguer barricadas nas estradas que levam a Cabo Haitiano para impedir que as pessoas da capital comparecessem ao funeral.
O novo primeiro-ministro Ariel Henry, que assumiu o cargo na quarta-feira, prometeu levar à Justiça os responsáveis pelo assassinato de Moise, além de restabelecer a ordem e organizar as eleições exigidas pela população e comunidade internacional.
Por enquanto, o país não tem um parlamento funcional e poucos senadores eleitos. O governo interino instalado nesta semana não tem presidente.
Moise governou o país, o mais pobre das Américas, por decreto depois que as eleições legislativas de 2018 foram adiadas devido a várias disputas.
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