Joe Biden teme pelo fim de uma solução diplomática e pacífica no conflito entre Rússia e UcrâniaAFP

Washington - Joe Biden declarou pela primeira vez nesta sexta-feira estar convencido de que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, "tomou a decisão" de invadir a Ucrânia, e que a multiplicação de confrontos visa criar a falsa justificativa para o lançamento da ofensiva na próxima "semana" ou "dias".
O presidente dos Estados Unidos, porém, deixou a porta aberta para o diálogo. "Até que (Putin) o faça, a diplomacia é sempre uma possibilidade", disse Biden em um discurso televisionado da Casa Branca, anunciando que o secretário de Estado americano, Antony Blinken, se reunirá na próxima quinta-feira com seu homólogo russo, Sergey Lavrov, na Europa.
Por sua parte, o presidente francês, Emmanuel Macron, falará por telefone com Putin neste domingo, um dia depois de ligar para o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, que planeja participar da Conferência de Segurança de Munique, que vai até domingo e que contará com a presença de vários líderes internacionais.
No entanto, Biden questionou abertamente se seria sábio da parte do presidente ucraniano deixar seu país em meio à crescente tensão. A Rússia nega qualquer plano de invasão, mas exige garantias para sua segurança, como a retirada da Otan do Leste Europeu, que os países ocidentais rejeitam.
Os temores de uma intervenção militar russa na Ucrânia ficaram mais fortes do que nunca em meio às crescentes violações do cessar-fogo entre separatistas pró-Rússia e forças ucranianas, que lutam desde 2014 no leste da Ucrânia.
Os líderes dos territórios secessionistas pró-Rússia nesta região ordenaram a evacuação de civis para a Rússia. "Tudo é consistente com a estratégia que os russos usaram no passado, que é criar uma justificativa falsa para intervir contra a Ucrânia", acusou Biden, após participar de outra teleconferência com seus aliados da Otan.
Um funcionário dos EUA estimou nesta sexta-feira que a Rússia mobilizou 190.000 soldados, incluindo forças separatistas na Ucrânia. É "a maior concentração de tropas militares" desde a Guerra Fria, afirmou o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, observando que a Rússia pode atacar sem aviso prévio.
Putin, por sua vez, acusou Kiev de alimentar o conflito e apontou um "agravamento da situação em Donbass", região onde o exército ucraniano luta há oito anos contra forças pró-russas apoiadas por Moscou. "Tudo o que Kiev precisa fazer é sentar-se à mesa de negociações com os representantes (dos separatistas) de Donbass e chegar a um acordo", afirmou o presidente russo.
O Ocidente prometeu sanções econômicas devastadoras a Moscou no caso de uma invasão da Ucrânia. Os aliados dos EUA tornariam a Rússia um "pária", disse um alto funcionário americano nesta sexta-feira. Mas Putin voltou a minimizar a ameaça do Ocidente: "Sanções serão impostas não importa o que aconteça. Se houver uma razão ou não, eles encontrarão uma, porque seu objetivo é impedir o desenvolvimento da Rússia".
Aumentando as tensões, o Ministério da Defesa russo anunciou que Putin supervisionará pessoalmente os exercícios militares programados para este sábado, que envolvem mísseis com capacidade nuclear. Ao longo do dia, beligerantes no leste da Ucrânia acusaram uns aos outros de violar uma trégua e usar armas pesadas.
À tarde, as sirenes dos bombardeios ainda podiam ser ouvidos em Stanitsa Luganska, uma cidade sob controle ucraniano, segundo jornalistas da AFP. O local já havia sido alvo de tiros no dia anterior, que atingiram uma creche.
O líder separatista da região de Donetsk, Denis Pushilin, anunciou a evacuação de civis para a Rússia, "em primeiro lugar mulheres, crianças e idosos". Seu homólogo da vizinha "república" de Luhansk, Leonid Passetchnik, fez o mesmo antes de convocar "todo homem capaz de empunhar uma arma para defender sua pátria".
E Putin ordenou o pagamento de 10.000 rublos (cerca de 114 euros, 129 dólares) a cada pessoa que abandonar essas áreas. Canais de televisão russos mostraram imagens de evacuações de crianças reunidas no pátio de um orfanato.
À medida que as tensões aumentam, a Rússia reiterou nesta sexta-feira que continua retirando unidades militares dos arredores da Ucrânia, uma afirmação rejeitada pelo governo de Zelensky.
O secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, chegou a afirmar que os militares russos estavam enviando "mais forças" e se preparando para uma intervenção "aproximando-se da fronteira, posicionando tropas, aumentando suas capacidades logísticas".
Ao mesmo tempo, Washington e Londres acusaram Moscou de ser "responsável" pelos últimos ataques cibernéticos contra sites oficiais ucranianos nesta semana, apesar das negações do Kremlin.
A Rússia diz que não se afastará da Ucrânia a menos que os países ocidentais concordem em nunca permitir que Kiev se junte à Otan e retire as forças americanas do Leste Europeu, no intuito de criar uma nova versão das esferas de influência da era da Guerra Fria.
O conflito entre rebeldes pró-Rússia fortemente armados e forças do governo ucraniano no leste do país já dura oito anos, matando mais de 14 mil pessoas e forçando mais de 1,5 milhão a fugir de suas casas.