Primeiro-ministro britânico, Boris JohnsonAFP
"Entendo que as pessoas estejam indignadas", declarou em coletiva de imprensa, após publicação de um relatório interno segundo o qual os líderes políticos britânicos e altos funcionários envolvidos neste escândalo, conhecido como "partygate", devem "assumir a responsabilidade".
"Mas levando em conta tudo o que está acontecendo, acredito que é minha responsabilidade seguir em frente" com "prioridades" como a guerra da Ucrânia e a crise do custo de vida, ressaltou.
Horas antes, ele assumiu perante o Parlamento "total responsabilidade por tudo o que aconteceu na minha presença".
"Muitos desses eventos não deveriam ter ocorrido", concluiu o relatório da autoridade Sue Gray, sem citar o primeiro-ministro britânico.
Johnson justificou-se defendendo que, em plena pandemia, os seus colaboradores trabalhavam longas horas e era difícil "traçar um limite entre trabalho e socialização".
Mas reconheceu que "muitos desses eventos duraram muito mais do que o necessário, quebrando as regras" e se declarou "surpreso" pelas revelações de Gray sobre eventos em que ele "simplesmente não estava presente".
"Não foi determinado que a minha participação infringiu as regras", sublinhou, insistindo que, quando há meses assegurou que as regras tinham sido respeitadas, era "o que ele acreditava ser a verdade" e que desde então tem feito mudanças importantes na gestão de seus escritórios.
Seus argumentos não convenceram a oposição. O nacionalista escocês Ian Blackford o acusou de ter "perdido a pouca autoridade moral que lhe restava" e voltou a pedir sua renúncia, assim como o Partido Trabalhista.
"Presença de altos cargos"
Ela concluiu seu relatório em janeiro, mas a polícia decidiu abrir sua própria investigação, obrigando-a a publicar uma versão editada, omitindo todos os detalhes, para não interferir na investigação.
A Scotland Yard encerrou sua investigação na semana passada, aplicando 126 multas a 83 pessoas por 8 festas, e Gray pôde, enfim, publicar suas conclusões.
"Alguns dos colaboradores menos experientes acreditavam que sua participação em alguns destes eventos era permitida dada a presença de altos cargos", sublinhou.
Johnson e sua esposa Carrie, assim como o ministro das Finanças Rishi Sunak, receberam uma única sanção da polícia pelo que parece ser o menos importante dos encontros, uma festa pelo seu 56º aniversário, realizada em 19 de junho de 2020.
Na ocasião, o líder conservador descartou a renúncia, assegurando que "não lhe ocorreu naquela época, nem depois" que sua participação na breve reunião "poderia constituir uma violação das regras".
Nesta quarta-feira, ele reiterou suas desculpas por ter comparecido a este "breve evento".
Boris Johnson mentiu?
No contexto de crise bélica, e dado o importante papel que os britânicos têm desempenhado na resposta internacional à invasão russa, muitos membros de sua maioria pediram para aguardar os resultados das investigações antes de contemplar um possível voto de desconfiança, que deve ser solicitado por pelo menos 15% dos 359 deputados do Partido Conservador.
Muitos parlamentares conservadores aguardavam o relatório de Gray para decidir se o primeiro-ministro foi sincero quando disse que não sabia que estava infringindo as regras.
A oposição e alguns deputados da maioria conservadora denunciam que ele mentiu conscientemente. E aprovaram, após a publicação do relatório de Gray, a abertura de uma comissão parlamentar para determinar se Johnson enganou o Parlamento, o que, de acordo com o código de conduta, deveria implicar em sua demissão.
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