ONU alerta para aumento da fome no mundoFreepik

O objetivo da Organização das Nações Unidas (ONU) de erradicar a fome até 2030 está cada vez mais distante, alertaram nesta quarta-feira (6) cinco agências internacionais, destacando que "quatro em cada 10" latino-americanos vivem em insegurança alimentar.

"Esperávamos que hoje o mundo tivesse saído da crise da covid-19, mas a pandemia continua", e seu impacto foi agravado pelos conflitos e outras emergências humanitárias, observou o diretor geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), Qu Dongyu, durante entrevista coletiva em Nova York.

"Em 2021, entre 702 e 828 milhões de pessoas sofriam com a fome", ou seja, 9,8% da população mundial, indicaram em relatório conjunto a FAO, o Fundo Internacional para o Desenvolvimento da Agricultura (Fida), o Unicef, o Programa Mundial de Alimentos (PAM) e a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Esse número significa que houve 46 milhões de pessoas a mais com fome em relação a 2020, quando a situação já havia piorado devido à pandemia. Segundo a FAO, "o mundo se distancia do objetivo de acabar com a fome, a insegurança alimentar e a desnutrição em todas suas formas até 2030", conforme planos da ONU no ODS-2, Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 'Fome Zero'. A organização aponta que 670 milhões de pessoas seguirão sofrendo com a fome no fim da década atual, "uma cifra semelhante a de 2015", quando a comunidade internacional estabeleceu a meta da erradicação.

Impacto grave na América Latina
Na América Latina e Caribe, "em apenas dois anos, 13 milhões de pessoas caíram na fome. Quatro em cada dez vivem em insegurança alimentar", afirmou o representante regional da FAO, Julio Berdegué, classificando a situação como "extremamente grave".

Segundo o relatório, do total de pessoas com fome em 2021, 7,4% vive na América Latina e Caribe. Mas é o Caribe, dentro da região, que apresenta a maior proporção de população que passa fome (pouco mais de 16%), o dobro da América Central e do Sul.

Mas desde 2015, a fome quase dobrou na América do Sul, enquanto no Caribe aumentou 2,2%, e na América Central, 0,9%. Na América Latina, a insegurança alimentar continua piorando, de acordo com o relatório. Em 2021, 40,6% da população (268 milhões de pessoas) sofreu insegurança alimentar moderada ou grave, ou seja, 1,1% a mais que em 2020.

Esse problema "não se limita mais a grupos sociais que viveram na pobreza por muito tempo". Agora, "a insegurança alimentar chegou às cidades e a dezenas de milhares de famílias que nunca a viveram antes", alertou Julio Berdegué.

A desigualdade de gênero aumentou em escala global entre 2020 e 2021, porém “é mais evidente na América Latina e no Caribe”, destaca o relatório. “Em 2021, 31,9% das mulheres no mundo sofriam de insegurança alimentar moderada ou grave, em comparação com 27,6% dos homens”, mas, na América Latina e no Caribe, “a diferença entre homens e mulheres foi de 11,3 pontos percentuais”. Em 2020, havia sido de 9,4 pontos percentuais.

Resiliência
Se medidas drásticas não forem tomadas em escala global, "todos os nossos esforços terão servido simplesmente para atrasar as grandes crises que vivemos", lamentou o presidente do Fida, Gilbert Houngbo, em entrevista à AFP. As cinco organizações internacionais alertaram sobre uma "intensificação dos principais fatores de insegurança alimentar e desnutrição", sendo eles os conflitos, os extremos fenômenos climáticos e as crises econômicas.

Para as organizações, a chave é tomar medidas audaciosas para fortalecer a "resiliência" diante de crises futuras, como ocorreu com a guerra na Ucrânia e a interrupção na cadeia de fornecimento. O Chifre da África (Somália, Quênia, Etiópia) também enfrenta uma das piores secas em mais de 40 anos, o que está dizimando o gado e as plantações e ameaçando mais de 16 milhões de pessoas com a fome, segundo a ONU.

Por outro lado, 2,3 bilhões de pessoas sofreram insegurança alimentar grave ou moderada em algum momento de 2021, o que significa que não tiveram acesso a uma alimentação adequada ou tiveram dificuldades para se alimentar em alguns períodos. A maioria vive em áreas rurais de países em desenvolvimento, principalmente da Ásia e da África, informou o presidente do Fida.