Presidente ucraniano reforçou que foram obtidas "novas provas de tortura" nos corpos Sergey Bobok/AFP

A República Checa, que ocupa atualmente a presidência rotativa da União Europeia (UE), solicitou neste sábado, 17, a criação de um tribunal internacional para julgar crimes de guerra, após a descoberta de centenas de corpos nas proximidades de Izium, na Ucrânia, nesta quinta-feira, 15. A cidade, que fica no leste do país, foi recém-libertada das forças russas, enquanto os combates continuam.
"Somos favoráveis a que todos os criminosos de guerra sejam punidos. Peço a criação rápida de um tribunal internacional especial que puna o crime de agressão", declarou o ministro das Relações Exteriores da República Tcheca, Jan Lipavsky, no Twitter.
O pedido foi anunciado depois que foram descobertas quase 450 sepulturas em Izium. Na área, "99% dos corpos exumados tinham sinais de morte violenta", disse o governador regional, Oleg Sinegubov, nesta sexta-feira, 16.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, reforçou em seu discurso vespertino diário em que foram obtidas "novas provas de tortura" nos corpos encontrados ali.
"Já foram encontradas mais de dez câmaras de tortura em várias cidades e povoados libertados na região de Kharkiv", acrescentou, citando a descoberta de ferramentas de tortura elétrica.
"Isto é o que faziam os nazistas. Isto é o que fazem os 'russistas'. E serão responsáveis da mesma maneira, tanto no campo de batalha quanto nos tribunais", prometeu.
Por sua vez, o Defensor do Povo ucraniano, Dmitro Lubinets, afirmou que "provavelmente mais de 1.000 cidadãos ucranianos foram torturados e assassinados nos territórios libertados da região de Kharkiv".
A descoberta macabra provocou uma onda de indignação no Ocidente, pouco mais de cinco meses depois de o exército russo, expulso da região de Kiev, ter deixado para trás centenas de cadáveres de civis, muitos deles com sinais de tortura, e execuções sumárias, em particular na cidade de Bucha.
"O mundo deve reagir diante de tudo isto. A Rússia repetiu em Izium o que fez em Bucha", afirmou Zelensky, que elogiou o envio de uma equipe da ONU para participar na investigação ucraniana.
Estados Unidos e UE também expressaram indignação e responsabilizaram a Rússia.
"Este comportamento desumano das forças russas [...] deve cessar imediatamente", declarou em nota o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell.
Na quinta-feira, 15, antes da descoberta dos túmulos, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que o presidente russo, Vladimir Putin, deve ser levado à justiça internacional por crimes de guerra.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, advertiu mais uma vez o presidente Putin contra o uso de armas químicas na Ucrânia.
"Mudaria o curso da guerra de uma maneira que não se vê desde a Segunda Guerra Mundial", advertiu o presidente americano em uma entrevista ao canal CBS.
No terreno, onde as forças ucranianas armadas pelos ocidentais primeiro contiveram o avanço russo no leste e depois retomaram milhares de quilômetros quadrados em uma contraofensiva relâmpago no nordeste, os confrontos prosseguiam.
Em Kupiansk, retomada na semana passada pelas forças ucranianas, os confrontos com o exército russo, entrincheirado na margem leste do rio Oskil, continuavam, informaram jornalistas da AFP.
Segundo um comunicado do Estado Maior Geral das forças ucranianas, "o inimigo realizou durante o dia quatro ataques com mísseis e 15 ataques aéreos, bem como mais de 20 ataques com lança-foguetes múltiplos contra locais civis e militares na Ucrânia".
Na região de Kharkiv, uma menina de 11 anos morreu em um ataque de mísseis russos na localidade de Chuhuiv, informou o governador Oleg Sinegubov.
Os "invasores russos" bombardearam uma central térmica neste sábado em Mikolaivka, afirmou Pavlo Kirilenko, governador da região de Donetsk (leste).
Na região vizinha de Dnipropetrovsk, "os russos dispararam Grad (lança-foguetes múltiplos) e artilharia pesada toda a noite sobre o distrito de Nikopol", afirmou o governador local, Valentin Reznitchenko. E no sul, uma pessoa morreu em Dmitrivka em bombardeios russos, segundo o governador regional, Vitali Kim.
O exército de Moscou negou os bombardeios contra civis e afirmou que se trataram de ataques de "alta precisão" contra alvos militares.