Ataque afetou equipamentos industriais, num episódio que Kiev denunciou como ato de 'terrorismo nuclear' Reprodução

A Ucrânia acusou nesta segunda-feira, 19, a Rússia de bombardear a área da usina nuclear de Pivdennonukrainsk, no sul do país, o que provocou novos temores de que essa guerra possa levar a um grande incidente atômico.
Esta central nuclear ucraniana é a terceira a se ver envolvida na guerra iniciada pela Rússia em fevereiro contra a Ucrânia, e isso apesar de vários apelos da comunidade internacional para poupar essa infraestrutura para não causar uma catástrofe continental.
Moscou, por sua vez, denunciou uma "mentira" da Ucrânia três dias após a descoberta de centenas de corpos enterrados na floresta perto da cidade de Izium, recentemente tomada do exército russo.
Kiev acusou o exército russo de abusos. Reagindo ao ataque com mísseis que atingiu o local da usina de Pivdennonukrainsk, na região de Mykolaiv (sul), o presidente Volodymyr Zelensky acusou a Rússia de estar "colocando em risco o mundo inteiro".
"Temos que parar antes que seja tarde demais", disse em uma mensagem no Telegram, acompanhada de um vídeo de vigilância mostrando uma grande explosão. De acordo com a operadora Energoatom, "uma poderosa explosão ocorreu a apenas 300 metros dos reatores" desta usina, num ataque noturno com míssil russo.
A 260 quilômetros em sentido oeste, outra usina nuclear ucraniana, a de Zaporizhzhia, a maior da Europa e ocupada pelas tropas russas desde as primeiras semanas da invasão, foi alvo de inúmeros bombardeios nos últimos meses, provocando grande preocupação.
Kiev e Moscou trocam acusações sobre os ataques e a respeito de uma chantagem nuclear. No entanto, a situação melhorou nos últimos dias e a usina foi reconectada à rede elétrica ucraniana. O conselho de ministros da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), uma organização que mantém observadores no local desde o início de setembro, pediu à Rússia que se retire do local.
No início da invasão russa, as forças de Moscou também ocuparam a usina de Chernobyl (norte), onde um dos reatores explodiu em 1986, o que provocou uma nuvem radioativa em grande parte da Europa. A ocupação do local provocou temores pela segurança do sarcófago de contenção do reator danificado. As forças russas finalmente se retiraram após a fracassada ofensiva em Kiev.
Em Pivdennonukrainsk, a usina operava normalmente na manhã desta segunda-feira, apesar do ataque que explodiu 100 janelas e causou um breve desligamento de três linhas de alta tensão. O bombardeio ocorre quando as forças russas tiveram uma série de derrotas em setembro, com sua retirada de grande parte do nordeste do país diante de uma contraofensiva relâmpago dos ucranianos na região de Kharkiv.
As tropas de Kiev também recuperaram terreno, porém mais lentamente, no sul.Por vários dias, no entanto, o avanço ucraniano desacelerou. O presidente Zelensky insistiu na noite de domingo que "não era uma pausa", mas "a preparação dos próximos passos", com a Rússia controlando grande parte do Donbass (leste) e as regiões de Kherson e Zaporizhzhia (sul), depois de ter anexado a península da Crimeia em 2014.
Por sua vez, o prefeito pró-Rússia da cidade de Donetsk, Alexei Kemzulin, denunciou um ataque "punitivo" ucraniano na capital da zona separatista de mesmo nome, matando 13 civis. "De acordo com dados preliminares, 13 civis foram mortos após bombardeios punitivos" no oeste de Donetsk", disse Kemzulin no Telegram, acrescentando que a contagem dos feridos ainda está em andamento.
"Nove projéteis de 155 mm foram disparados de Netaylov", disse, pedindo à população "que não saia a menos que seja absolutamente necessário".
Estas declarações não puderam ser verificadas independentemente neste momento. Na região de Kharkiv, as exumações de corpos continuam em Izium após a descoberta de mais de 440 túmulos perto desta cidade recentemente recapturada dos russos. 
Alguns corpos, com as mãos amarradas, apresentavam sinais de tortura. Investigadores ucranianos começaram suas investigações em 16 de setembro. Mais uma vez, como após a descoberta em Bucha de centenas de corpos de civis após a retirada russa, o Kremlin negou qualquer abuso.
"É uma mentira. É claro que vamos defender a verdade neste caso", disse Dmitry Peskov, porta-voz do presidente Vladimir Putin. "É o mesmo cenário que em Bucha".
A presidência tcheca da UE pediu no sábado a criação de um tribunal internacional especial. Jornalistas da AFP ouviram depoimentos de ucranianos que disseram ter sido torturados por soldados russos durante a ocupação da região de Kharkiv.
No hospital de Izium, Mykhaïlo Tchindeï, de 67 anos, disse que foi detido por 12 dias por soldados inimigos em uma cela úmida e que seus carcereiros quebraram seu braço com uma barra de metal.
"Eles atingiram meus calcanhares, costas, pernas e rins", acrescentou Tchindei, explicando que os soldados russos o acusaram de ter dado às forças ucranianas as coordenadas de uma escola onde tinham se estabelecido.
Na frente diplomática, a lista de sanções contra Moscou cresceu ainda mais. A Polônia e os três Estados Bálticos restringiram a partir desta segunda-feira a entrada de cidadãos russos com vistos europeus em seu território.