Acidente aéreo ocorreu em 2009Reprodução

O julgamento contra a fabricante Airbus e a companhia aérea Air France por homicídio culposo começou nesta segunda-feira (10) na França com a leitura dos nomes das 228 pessoas que morreram em 2009 na tragédia aérea entre Rio de Janeiro e Paris.
Mais de cinquenta familiares das vítimas estavam na sala lotada do tribunal correcional de Paris, onde os três magistrados leram os nomes dos falecidos em meio a um silêncio doloroso.
Pouco antes, o CEO da Airbus, Guillaume Faury, e a diretora-geral da Air France, Anne Rigail, ouviram as acusações contra as duas empresas, cercados por seus advogados.
Em 1º de junho de 2009, o avião do voo AF447 caiu no meio da noite no Atlântico, 3 horas e 45 minutos após a decolagem no Rio, causando a morte de seus 216 passageiros e 12 tripulantes. Foi o desastre mais mortal da história da Air France.
Os primeiros destroços, assim como corpos, foram encontrados nos dias que se seguiram, mas a fuselagem só foi localizada dois anos depois, em 2 de abril de 2011, a 3.900 metros de profundidade cercada por altos relevos subaquáticos, durante a quarta fase de buscas.
As caixas-pretas, recuperadas um mês depois, confirmaram que os pilotos, desorientados pelo congelamento das sondas de velocidade Pitot numa zona de convergência intertropical perto do Equador, não conseguiram recuperar a sustentação (estol) da aeronave, que caiu em menos de cinco minutos.
Após uma longa sucessão de perícias, os juízes de instrução arquivaram o caso em 29 de agosto de 2019. Indignados, familiares das vítimas e sindicatos de pilotos recorreram e, em 12 de maio de 2021, a Câmara de Instrução decidiu pelo processo por homicídios involuntários das duas empresas.
"Não param de nos dizer que o sistema aéreo, o transporte aéreo, têm como lema a segurança. Neste caso, vemos que às vezes a segurança é deixada de lado", disse à AFP Sébastien Busy, advogado dos familiares das vítimas.
Para o advogado, o objetivo de seus clientes é duplo: "obter a verdade judicial, para entender o que aconteceu exatamente naquela noite" e também construir com esse julgamento "a segurança (aérea) de amanhã".
No entanto, as famílias das vítimas acolhem o julgamento com sentimentos contraditórios.
"Não espero nada deste processo", disse à AFP Nelson Faria Marinho, presidente da associação brasileira das vítimas do voo AF447 e cujo filho morreu no acidente aos 40 anos. Este homem de 79 anos não viajará para Paris por falta de recursos.
Sua homóloga da associação de familiares das vítimas Entraide et Solidarité AF447, Danièle Lamy, por sua vez, espera que este processo, após uma "batalha jurídica", "seja o julgamento da Airbus e da Air France" e não "o dos pilotos ".
Para o sindicato de pilotos do grupo Air France (SPAF), é "importante que um tribunal possa ouvir todas as partes e se pronunciar sobre as diferentes responsabilidades durante um processo público, onde será destacada a importância da segurança dos voos" .
O avião registrado F-GZCP, colocado em serviço quatro anos antes, transportava passageiros de 33 nacionalidades diferentes: 61 franceses, 58 brasileiros e 28 alemães, assim como italianos (9), espanhóis (2) e um argentino, entre outros.
Um total de 476 familiares constituem a parte civil. Cinco dias serão dedicados àqueles que desejam testemunhar.
O tribunal terá que determinar se a Airbus e a Air France, que enfrentam uma multa de 225.000 euros (cerca de 220.000 dólares), cometeram erros relacionados à tragédia.
As duas empresas negam ter cometido qualquer infração penal.