Meloni se declara como cristã conservadora e defende pautas hostis aos direitos LGBTQIA+ e de migrantes no paísAFP
Meloni é designada primeira-ministra da Itália em novo governo de direita no país
Admiradora de Mussolini, premiê tem tentado minimizar os temores que sua chegada ao poder provoca em relação às questões sociais
Roma - Líder do partido de extrema-direita Fratelli d'Itália, vencedor das eleições legislativas da Itália, Giorgia Meloni foi designada nesta sexta-feira, 21, primeira-ministra do país. Aos 45 anos, ela se torna a primeira mulher à frente do Executivo da terceira maior economia da União Europeia (UE) e país-membro da Otan. Sua chegada ao poder acontece um século depois da de Benito Mussolini.
O presidente Sergio Mattarella confiou a Meloni a tarefa de formar o governo e seu primeiro anúncio foi designar como ministro da Economia Giancarlo Giorgetti, considerado um nome moderado e pró-UE do partido de extrema direita Liga, de Matteo Salvini.
Giorgetti deverá coordenar com os demais países da UE a resposta a uma conjuntura difícil, acentuada pela crise energética e a inflação. Apesar de sua reputação como eurocética, Meloni também indicou para o Ministério das Relações Exteriores um defensor convicto do multilateralismo europeu, o ex-presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani.
A tarefa de Meloni, no entanto, não será fácil, pois ela terá que manter a unidade em uma coalizão que já apresenta fissuras. Salvini e o ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi rejeitam a autoridade dela, cujo partido pós-fascista obteve 26% dos votos nas eleições de 25 de setembro, enquanto o Força Itália (Forza Italia) de Berlusconi conseguiu 8%, e a Liga de Salvini, 9%.
A imprensa italiana fez eco dos múltiplos questionamentos entre os três líderes partidários sobre a distribuição de cargos. Meloni é favorável à Otan e à Ucrânia na guerra que esse país trava contra a invasão russa. Uma postura que contrasta com a de Berlusconi, que louvou esta semana o fato de ter "retomado" seus contatos com o presidente russo, Vladimir Putin, e responsabilizou a Ucrânia pela guerra.
Na quarta-feira, Meloni se sentiu obrigada a esclarecer que a Itália "participa plenamente e de cabeça erguida" da UE e a Otan. Por outro lado, Meloni tem tentado minimizar os temores que sua chegada ao poder provoca em relação às questões sociais.
Uma oradora talentosa, cristã conservadora, hostil aos direitos LGBTQIA+ e que tem como lema "Deus, pátria e família", prometeu que não mexerá na lei que autoriza o aborto. Contudo, a crise econômica será um tema inevitável. A inflação na Itália alcançou 8,9% interanual em setembro e o país corre o risco de entrar em recessão técnica no próximo ano, assim como a Alemanha.
A margem de manobra é limitada por sua dívida pública colossal, que representa 150% do Produto Interior Bruto (PIB), o índice mais elevado da zona do euro depois da Grécia. Meloni rejeitou apoiar uma saída do euro, mas prometeu defender os interesses de seu país em Bruxelas.
O crescimento italiano dependerá também dos cerca de 200 bilhões de euros em subsídios e empréstimos acordados pela UE no contexto de seu fundo de reativação pós-pandemia.