Preocupação com a situação do preso político egípcio Alaa Abd el-Fattah chega a COP27IMAGEPLOTTER/ALAMY

A situação de Alaa Abd el-Fattah, um dos presos políticos mais conhecidos do Egito, que está em greve de fome, chegou nesta segunda-feira (7) à conferência da ONU sobre o clima em Sharm el-Sheikh. França e Reino Unido pressionaram o presidente egípcio para sua libertação.

O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, havia alertado que o caso desse ativista pró-democracia britânico-egípcio, de 40 anos, era uma prioridade para seu governo.
Após se reunir com o presidente Abdul Fattah al-Sisi, Sunak afirmou que "esperava ver seu caso resolvido o quanto antes" e se comprometeu a seguir "pressionando para que haja avanços", de acordo com um porta-voz de Downing Street.

O presidente da França, Emmanuel Macron, por sua vez, garantiu que o líder egípcio se comprometeu a preservar a saúde de El-Fattah e disse que espera ver "resultados nas próximas semanas e próximos meses".

O porta-voz de Al-Sisi confirmou as conversas com os dois governantes europeus, mas não deu mais detalhes sobre seu conteúdo.

Já o chefe da diplomacia do Egito, Sameh Choukri, presidente da COP27, afirmou à emissora CNBC que o ativista "conta com todos os cuidados necessários na prisão".

Os familiares do prisioneiro, no entanto, rechaçam essas alegações. Sua irmã Sanaa Seif, que esteve na conferência, realizou múltiplas entrevistas e reuniões com autoridades.
Desde o início de abril, El-Fattah ingeria apenas uma xícara de chá e uma colherada de mel por dia. Na terça-feira passada parou totalmente de comer e, no domingo, de ingerir líquidos, coincidindo com a abertura da COP27.

"Não resta muito tempo"

Nesta segunda-feira, três jornalistas egípcias anunciaram que começaram também uma greve de fome para exigir sua libertação.

"Paramos de nos alimentar porque Alaa Abd el-Fattah está em risco de morte", explicou à AFP Mona Selim, que protagonizou um protesto no sindicato de jornalistas do Cairo junto com Eman Ouf e Rasha Azab.

As três pedem "a libertação de todos os prisioneiros de consciência", os quais há mais de 60 mil no Egito, segundo as ONGs.
Os ativistas presentes na COP27 divulgaram várias publicações nas redes sociais com a hashtag #FreeAlaa e muitas personalidades da sociedade civil terminaram suas intervenções com a frase "You have not yet been defeated" ("Você ainda não foi derrotado"), título do livro de El-Fattah, cujo prefácio foi escrito pela jornalista e ativista canadense Naomi Klein.

A secretária-geral da Anistia Internacional (AI), Agnès Callamard, insistiu no domingo na necessidade de liberar El-Fattah o quanto antes. "Não resta muito tempo [antes que ele morra], no máximo 72 horas", declarou.

Em Beirute, uma manifestação em frente à embaixada britânica reuniu cerca de 100 pessoas.

"Alaa é um símbolo no mundo árabe", disse a jornalista e ativista Diana Moukalled, segurando uma foto do ativista com o lema #FreeAlaa. "Ele encarna a luta do mundo árabe contra os regimes autoritários há 12 anos.",
Abd El-Fattah, engenheiro de formação e blogueiro pró-democracia, um ferrenho inimigo do regime do presidente Abdel Fattah al-Sisi, foi condenado no final de 2021 a cinco anos de prisão por "divulgação de informações falsas", após passar a maior parte da década passada atrás das grades.

Ele ficou conhecido durante o movimento sindical Kefaya nos anos 2000. Também participou da revolução de 2011 que levou à queda de Hosni Mubarak e das marchas contra o Mohamed Morsi e Al-Sisi.

Segundo a AI, desde que o Egito reativou sua comissão de indultos presidenciais em abril, 766 prisioneiros de consciência foram libertados, mas outros 1.540 foram detidos.

O país norte-africano ocupa a posição 168º de 180 na classificação de liberdade de imprensa de 2022 da ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF).