COP-27 apresentou medidas a serem adotadas pelos países para combater a crise climáticaReprodução
COP27 é prorrogada até sábado por bloqueio em questão do financiamento
Objetivo seria financiar os países que emitem menos gases estufas, porém sofrem consequências de fenômenos meteorológicos
Os países que participam na conferência sobre a mudança climática da ONU (COP27) prosseguirão com as negociações até sábado (19), superando a data oficial de encerramento que era esta sexta-feira (18), devido à falta de acordo sobre financiamento, em particular a criação de um fundo de perdas e danos para as nações mais afetadas.
"Continuo determinado a encerrar esta conferência amanhã (sábado), de maneira ordenada", declarou o chanceler egípcio e presidente da COP27, Sameh Choukri, aos representantes de quase 200 delegações presentes na cúpula.
Compensar os países que emitem menos gases do efeito estufa, mas que sofrem as consequências de fenômenos meteorológicos extremos, é uma antiga aspiração dos países mais vulneráveis. Pela primeira vez em 30 anos, a proposta está perto de ser aprovada. As negociações aceleraram após a apresentação de uma iniciativa da União Europeia (UE) na quinta-feira.
Mas o rascunho do texto final da COP27, de 10 páginas, ainda contém muitas dúvidas, como é comum nas conferências do clima da ONU. O chanceler egípcio expressou preocupação com a quantidade de temas pendentes relacionadas a "financiamento, mitigação (das emissões de gases de efeito estufa), perdas e danos, todas interligadas".
"Faço um apelo às partes a trabalhar juntas para resolver estas questões pendentes o mais rápido possível", enfatizou Choukri.
Fundo de compensação
Determinar quais países poderiam receber a ajuda de um fundo de compensação por perdas e danos da mudança climática, e quem deve contribuir, é objeto de negociações árduas. A UE propôs a criação de um "Fundo de Resposta" para os países mais vulneráveis.
O vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans, pediu uma "ampliação da base de doadores", uma referência à China, o principal emissor de gases do efeito estufa e segunda maior potência econômica do planeta.
O ministro canadense do Meio Ambiente, Steven Guilbeault, indicou que um acordo estava "próximo", mas que "as contribuições deveriam incluir todos os grandes emissores, como China, Arábia Saudita ou Catar".
O representante chinês na sessão plenária, Zhao Yingmin, limitou-se a pedir que Acordo de Paris "não seja reescrito".
O acordo histórico de 2015 estabeleceu as bases do atual compromisso contra a mudança climática, mas recordou que responsabilidade é comum, embora diferenciada, ou seja, que os países desenvolvidos devem contribuir muito mais com base em seu histórico de emissões e uso de recursos naturais.
Timmermans também pediu que, em troca do fundo, todos os países reforcem as medidas para reduzir as emissões de gases. Apenas 30 países apresentaram novas metas de redução de emissões em Sharm el-Sheikh, apesar do apelo por este passo na COP anterior, organizada no ano passado em Glasgow.
Esta proposta de fundo "é a última oferta" da UE, reiterou Timmermans à imprensa nesta sexta-feira.
"Temos que avançar com o trabalho sobre perdas e danos aqui, nesta COP", pediu o representante norueguês, Espen Barth Eide.
Ao mesmo tempo, "temos de confirmar novamente a promessa" de manter o aquecimento global em no máximo de +1,5ºC, lembrou, o que significa reduzir as emissões pela metade até 2030, segundo os cientistas.
"Trata-se de colocar a vulnerabilidade (às mudanças climáticas) no centro do debate", insistiu a ministra paquistanesa de Mudanças Climáticas, Sherry Rehman, que representa o maior grupo negociador (G77, com 134 países).
Uma fonte negociadora, que pediu anonimato, explicou à AFP tarde da noite que as posições envolvidas nas conversas ainda estavam muito distantes.
"O novo texto tem que ser equilibrado, e todos os países têm que poder vê-lo", explicou.
Relação de desconfiança
Entre os países em desenvolvimento há uma desconfiança considerável pelas promessas não cumpridas do passado.
Em 2009, os países desenvolvidos prometeram que desembolsariam a partir de 2020 a quantia de 100 bilhões por ano para ajudar na adaptação dos países pobres às mudanças climáticas e na redução de suas emissões, ao mesmo tempo que iniciam a transição energética.
O presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, recordou na quinta-feira, em sua visita à COP27, que esta quantia ainda não foi distribuída em sua totalidade. E esses 100 bilhões de dólares devem ser aumentados, a princípio, a partir de 2025.
As negociações finais das conferências do clima da ONU costumam registrar uma série de frases de impacto e termos jurídicos. O governo dos Estados Unidos, que não se manifestou na sessão plenária desta sexta-feira, defende o aumento dos compromissos, mas até agora rejeitou a criação de um novo mecanismo financeiro. O Departamento de Estado americano não quis responder aos questionamentos da AFP.