Presidente de Cuba fala com repórteres depois de votar Ernesto Mastrascusa / POOL-EFE / AFP

Os cubanos votam, neste domingo (27), para eleger autoridades municipais em um contexto de forte crise econômica que pode favorecer a abstenção, e em meio a reclamações da oposição sobre "pressões" contra seus candidatos.
Mais de oito milhões de pessoas com mais de 16 anos  são convocadas para eleger - por voto direto e secreto - 12.427 delegados municipais do Poder Popular, os vereadores, entre cerca de 27.000 candidatos propostos nas assembleias de bairro.
Com a hashtag "YoVotoEl27", o governo lançou uma intensa campanha nas redes sociais convocando a população às urnas, assim como na imprensa escrita e na televisão, ambas sob controle do governante Partido Comunista (PCC), que não postula, mas supervisiona o processo.
Em contrapartida, o Conselho para a Transição Democrática (CTDC), plataforma da oposição que promove mudanças no país por meios legais, pediu abstenção sob o lema "Sem pluralismo, #YoMeAbstengo".
O seu vice-presidente, Manuel Cuesta, explicou à AFP que "a polícia política impossibilitou a participação de três candidatos a vereadores (nas assembleias de bairro)" porque tinham sérias chances de ganhar.
Um quarto candidato, José Cabrera, "foi nomeado" no município de Palma Soriano, em Santiago de Cuba (sudeste), mas depois "começaram a ameaçá-lo com expulsão do trabalho" e "a pressioná-lo a afastar-se do Conselho", acrescentou.
"A segurança e a polícia estão de olho no quarteirão dele" e sua biografia como candidato não foi publicada, requisito necessário para ser votado, disse.
O governo cubano rotula os opositores como "mercenários" pagos pelos Estados Unidos. Estas eleições são o primeiro passo de um mecanismo eleitoral único, posto em vigor em 1976, que prosseguirá com a renovação do Parlamento em 2023 e que deverá terminar no mesmo ano com a eleição presidencial.
Os vereadores eleitos formarão os governos municipais e proporão entre eles 50% dos candidatos às assembleias provinciais e ao Parlamento, que elege entre seus membros o Conselho de Estado e o presidente do país. Os outros 50% são propostos por organizações sociais próximas ao governo.
Em tese, o sistema eleitoral permite que qualquer cubano proposto pela base chegue ao Parlamento, mas a oposição critica o processo, apontando que, com sua influência e o voto de seus militantes e simpatizantes, o PCC consegue que nenhum opositor seja eleito.
A situação de profunda crise econômica que a ilha atravessa, com escassez de alimentos e medicamentos e apagões diários, bem como um êxodo migratório, podem favorecer a abstenção eleitoral.