Por thiago.antunes

Rio - O advogado Maurício Moreira Furtado, de 56 anos, fumou dos 21 aos 38 anos. Eram dois maços por dia durante a semana e três nos fins de semana. Um problema que afetava a família.

A mulher, recentemente, descobriu que tem um enfisema pulmonar como fumante passiva: passou anos absorvendo a fumaça dos cigarros de Maurício e dos amigos que fumavam no ambiente de trabalho. “O mal que o cigarro faz vai além do fumante. Parei na hora certa. Senão, talvez ela viesse a ser a maior vítima desta história”, conta ele, que hoje ganhou fôlego para fazer pilates, algo inimaginável para alguém que não fazia nenhuma atividade física.

Cada vez mais os brasileiros estão deixando de fumar. O número de adeptos do tabagismo caiu 35% nos últimos 10 anos, segundo a pesquisa Vigitel 2016, do Ministério da Saúde. Há muito tempo José Luiz Barbosa, 64, já faz parte do time dos ex-fumantes.

Há um ano e três meses%2C Maria Flor enche de alegria os dias do avô José Luiz. Agora ele luta para convencer a mulher a largar o vícioDivulgação

“Parar de fumar foi uma das melhores decisões que tomei na vida. Sentia que o cigarro me prejudicava. Eu tossia muito e me faltava fôlego”, lembra o administrador de empresas, que fumou dos 14 aos 40 e aos 50 anos teve que implantar sete pontes de safena.

Maurício conseguiu parar de fumar em 1999, após participar, junto com mais seis fumantes, de um programa de TV sobre um tratamento inovador na época, que envolvia sessões de acupuntura, meditação, terapia em grupo e encontros individuais com um psicólogo. Já José Luiz decidiu abandonar o vício no meio da rua, no Centro do Rio, por conta de uma forte gripe. Após um trago, foram para o lixo o cigarro e o maço inteiro.

“Nenhum cigarro a mais valeria pena. Hoje, posso curtir minha netinha, Maria Flor, a maior alegria da minha vida. Se tivesse continuado a fumar, não sei se isso seria possível”.

Largar o cigarro não é fácil e muitas vezes não depende apenas de força de vontade, como muitos acreditam. Há pessoas que, inclusive, precisam de um período de imersão numa clínica especializada.

“A internação auxilia também na reprogramação mental de quem quer superar o vício em cigarro. Orientamos sobre as diversas técnicas para os pacientes se manterem longe do fumo, sendo que cada um tem uma prescrição conforme a sua realidade. Junto à medicação, mais o trabalho do nutricionista, evita-se com mais chances as recaídas”, diz a psicóloga Sabrina Presman, ex-coordenadora do Programa Estadual de Combate ao Fumo no RJ e diretora da Espaço Clif, clínica em Botafogo especializada em dependência química.

Pesquisa da Mayo Clinic, dos EUA, mostra que 57% dos que optam pela imersão numa clínica conseguem largar o cigarro em definitivo, contra apenas 27% dos que passam pelo tratamento convencional, feito em ambulatório.

Apesar dos esforços para reduzir o consumo no Brasil, com propagandas negativas chocantes e sobretaxação da indústria, o país ainda é o oitavo no ranking mundial de fumantes. São quase 20 milhões de brasileiros viciados em nicotina, sendo 11,1 milhões de homens. Em 2015, o tabagismo foi responsável por 156.216 mortes no país, 12,6% de todos os óbitos de pessoas com mais de 35 anos.

Do total, 34.999 foram por doenças cardíacas, 31.120 por doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), 26.651 por cânceres diversos, 23.762 por câncer de pulmão, 17.972 por tabagismo passivo, 10.900 por pneumonia e 10.812 por AVC.

E não é somente o dano à saúde de milhares de brasileiros. Os cofres públicos também sofrem o impacto do consumo excessivo de tabaco.

O prejuízo é de R$ 56,9 bilhões a cada ano com custos médicos diretos e indiretos, causados pela perda de produtividade, morte prematura ou incapacitação. José Luiz nunca mais deu um trago. Hoje, luta para convencer a esposa, Sônia Barbosa, 56, a também largar o vício. “Espero que ela siga o meu exemplo. Mas isso é algo que depende muito mais dela do que de mim”.

Sete passos para largar o cigarro

1 - Marque uma data

Marcar o dia certo para largar o cigarro é importante. Com isso, o fumante pode se preparar, avisar aos amigos, à família e ao mundo que está se despedindo do ato

2 - Jogue fora seus cigarros

É preciso se livrar de todos os cigarros guardados em casa, no carro, no trabalho e onde quer que seja

3 - Tenha paciência

Vontade é coisa que dá e passa. Aquela vontade quase incontrolável de fumar dura apenas de três a cinco minutos. Ou seja, mantenha a calma e espere um pouco. Vale a pena

4 - Encontre substitutos

Identifique ações que te levam a acender um cigarro. Por exemplo: ler jornal, tomar café ou falar ao telefone. Nesses casos, mantenha os hábitos e busque outros itens para te distrair. Dicas: mastigue gengibre, cravo ou mesmo pequenos pedaços de cenoura em pedacinhos

5 - Pare em até sete dias

Interromper de vez ou aos poucos depende de cada um. Mas se decidir diminuir gradativamente o número de cigarros, é importante cortar definitivamente o hábito de fumar em até sete dias

6 - Recaída? Tente de novo

Se, por acaso, você voltar a fumar, não desista e nem sinta vergonha. Sempre vale a pena tentar novamente

7 - Faça alguma atividade

Procure se ocupar com ações prazerosas: passeios, exercícios físicos, um bom filme...

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