Por tabata.uchoa
FMS%2C de 57 anos%2C mostra o cigarro que compra em Nova Iguaçuarquivo pessoal

Rio - A crise econômica está fazendo explodir a apreensão de cigarros contrabandeados de baixa qualidade, os conhecidos ‘mata ratos’. Só este ano a Polícia Rodoviária Federal (PRF) já confiscou 26,7 mil pacotes de cigarros clandestinos (267 mil maços ou 5,3 milhões de unidades) nas rodovias federais do Rio. A maioria dos carregamentos é proveniente do Paraguai. O número preocupa as autoridades de segurança, pois é cerca de sete vezes maior que as estatísticas dos anos 2013 e 2014 juntos. Em 24 meses nesse período, os pacotes interceptados durante operações e fiscalizações de rotina não ultrapassaram 3.529.

Moradora de Nova Iguaçu, a cuidadora F.M.S., de 57 anos, confessa que passou a fumar nos últimos meses uma marca paraguaia por conta do valor, que chega a ser três vezes menor que os de fabricação nacional. “O que vem de fora custa R$ 2 o maço, e o que eu comprava (da indústria brasileira) está a R$ 7,25. Para alimentar meu vício, tenho que recorrer ao mais barato”, disse Florineide, que começou aos 14 anos e hoje fuma cinto maços por semana. “Acho que os cigarros estrangeiros me deixam mais cansado, mas o que importa é que economizo R$ 150 por mês fumando um maço diariamente”, justifica o pedreiro Isaías Januário, 49 anos, morador do Centro.

De acordo com a polícia, a maioria dos fumantes ignora o fato de que consumir cigarros contrabandeados, além de potencializar os males à saúde, ajuda a sustentar um mercado de contrabando que movimenta aproximadamente R$ 500 milhões em corrupção e subornos diversos em todo o País, conforme pesquisa da Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF).

A Receita Federal informou que, neste ano, de janeiro a julho, foram destruídos o equivalente a R$ 331 milhões em autuações fiscais de cigarros no Estado do Rio. Ao todo, foram inutilizados 1,7 tonelada de cigarros de procedência ilegal.

Especialistas acreditam que o alto consumo de cigarros contrabandeados deve-se a um novo modelo tributário criado em 2011, que fez o preço do produto mais barato subir 60%. Eles alertam ainda que o contrabando envolve outros tipos de crimes, o mais comum deles, o roubo e furto de veículos.

Levantamento do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (Idesf) apontou que, de janeiro de 2014 a fevereiro de 2015, 71,5% dos carros apreendidos com cigarros contrabandeados haviam sido levados por bandidos.

Fungo, ácaro e chumbo no tabaco

Pesquisa da Universidade Estadual de Ponta Grossa, do Paraná, mostrou que em meio ao tabaco dos cigarros paraguaios foram encontrados pêlos de animais, resquícios de areia e terra, vestígios de plásticos, restos de insetos, colônia de fungos, ácaros e metais cancerígenos como o chumbo, cádmio, níquel, cromo e manganês. Em algumas das 18 marcas testadas foram encontradas teores de chumbo 116 vezes superiores. A quantidade de nicotina de um cigarro contrabandeado é de até 20 vezes maior que a do produto nacional. Já o mau cheiro nas roupas, nos cabelos, boca e dedos, são inevitáveis.

O advogado Nélio Andrade, de 59 anos, conta que nunca fumou cigarro clandestino, mas sentia na pele as consequências por ter passado 36 anos tragando três maços de cigarros convencionais por dia. “Eu fedia a cigarro. . Há um ano consegui me libertar do vício”, diz Nélio, que em 2013 passou a usar cigarro eletrônico, um dispositivo de metal que imita o de verdade.

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