Nos últimos dois anos, os aplicativos de táxi se tornaram uma febre nas grandes cidades brasileiras. Depois de conquistarem os consumidores, o atendimento ao mercado empresarial é a mais nova fronteira dessas ofertas. A rota para alcançar esse novo público, no entanto, tem pela frente um ponto de congestionamento: a reação das empresas e cooperativas de rádio-táxi, que cobram das prefeituras a regulamentação dos novos rivais.
“Os aplicativos são um caminho sem volta. Não somos contrários a essa oferta. O que contestamos é a necessidade de se ter uma paridade tributária”, afirma Eder Wilson, diretor-presidente da cooperativa Use Táxi e secretário da Associação Brasileira das Cooperativas e Associações de Motoristas de Táxis (Abracomtáxi). Um dos pontos destacados é a obrigação dessas companhias recolherem os impostos e arcarem com os direitos trabalhistas dos motoristas.
O cadastro de taxistas nesses novos serviços é mais uma questão ressaltada. No processo tradicional, um motorista só pode ser vinculado a uma empresa ou cooperativa caso tenha seu prontuário e licença validados pelo órgão competente. “Todos esses aplicativos têm um controle na inclusão de taxistas, mas, por outro lado, não há uma fiscalização oficial desse processo, o que abre portas para uma série de ocorrências que podem denegrir o setor”, diz Ricardo Auriemma, presidente da Associação das Empresas de Táxi do Município de São Paulo (Adetax).
Mais do que fazer reivindicações, algumas dessas cooperativas estão iniciando sua corrida tecnológica. Empresas como a Coopertaxi e a Use Táxi lançaram recentemente seus primeiros aplicativos. No caso da Use Táxi, o investimento foi de R$ 1 milhão. “Já vínhamos trabalhando há dois anos, mas infelizmente, não temos capital estrangeiro envolvido, como muitas das empresas de aplicativos.
Dependemos exclusivamente do dinheiro dos taxistas”, diz Wilson. Segundo ele, 10% dos 5 mil chamados diários da empresa já são feitos via smartphones. “Até o momento, não sentimos nenhum impacto dos aplicativos concorrentes. Pelo contrário, em 2013, mantivemos nosso ritmo de crescimento anual acima de 15%”. No ano passado, a frota da Use Táxi movimentou R$ 70 milhões com o atendimento a 2,3 mil empresas.
Do outro lado do front, as empresas de aplicativos ouvidas pelo Brasil Econômico dizem seguir um processo rigoroso para a avaliação dos taxistas.
Além de procedimentos tradicionais nas cooperativas, como a verificação das licenças, documentação do veículo e ficha de antecedentes criminais, essas companhias apontam fatores adicionais, como a possibilidade de os usuários terem acesso à avaliação dos motoristas, realizada por outros clientes. “Quanto às alegações sobre tributações, o taxista não trabalha para nós. Somos uma empresa de tecnologia, um facilitador entre esse motorista e o cliente”, diz Tallis Gomes, fundador da Easy Taxi. “O mercado de cooperativas está fadado ao fracasso. A verdade é que o serviço que elas prestam não é de boa qualidade e o tempo de reação dessas empresas a essas novidades foi muito lento”, acrescenta.
A Easy Taxi começou a apostar no mercado corporativo no início do ano. Para desenvolver o novo modelo, a empresa investiu US$ 2 milhões e criou um time específico de vendas, suporte e pós-vendas. Além do aplicativo em si, a companhia seguiu o mesmo modelo de outras rivais que estão migrando para o setor, com a oferta de uma plataforma via internet para que os clientes consigam gerenciar e reduzir seus custos de táxi. O processo é todo digital e inclui funções como a possibilidade de estabelecer horários de uso para cada funcionário e/ou departamento.
O serviço da Easy Taxi está disponível inicialmente em São Paulo. No segundo semestre, a ideia é expandir a oferta para as outras 161 cidades — em 30 países — nas quais a companhia atua. Após superar 200 mil downloads de seu aplicativo para consumidores, a Incube lançou há duas semanas, em parceria com a Porto Seguro, a versão empresarial da oferta, batizada de Vá de Táxi Empresas. A companhia restringe seu serviço aos taxistas segurados pela Porto Seguro e conta hoje com 7 mil motoristas.
“Tivemos mais de cem solicitações de empresas nesse período”, diz Fernando Blay, sócio da Incube. “Há uma demanda muito grande, especialmente entre as médias e grandes empresas, no que diz respeito à gestão de custos. Os serviços oferecidos pelas cooperativas ainda são muito manuais, o que favorece as fraudes.”
Para o executivo, a reação das cooperativas aos aplicativos é um movimento natural. “Elas estão percebendo que existe uma boa possibilidade de perderem o monopólio que detêm”, observa.
Depois de investir inicialmente na divulgação do novo serviço junto a um grupo de empresas selecionadas, o próximo passo é atacar os clientes corporativos da Porto Seguro.
Uma das pioneiras no atendimento a empresas, a Wappa chegou ao mercado há dez anos, inicialmente com a oferta de plataformas de gestão para companhias e as próprias cooperativas. Há três anos, ela lançou seu aplicativo e hoje conta com 30 mil taxistas em todo o Brasil, o que inclui a frota de 250 empresas de rádio-táxi. Hoje, cerca de 25% dessa base é de motoristas autônomos e 70% das 10 mil chamadas diárias já são feitas via smartphone. A Wappa conta ainda com atendimento via mensagem de texto (SMS) e central telefônica.
“Há um ano, o setor teve um impacto de 15% de taxistas saindo das cooperativas e migrando para os aplicativos. Hoje, muitos estão voltando e usando as duas possibilidades. O aplicativo acaba sendo um complemento para esse profissional”, afirma Armindo Mota Jr., CEO da Wappa. “Existe espaço para todos. Se por um lado, as cooperativas têm que correr atrás da questão tecnológica, elas têm um conhecimento de décadas no atendimento às empresas. É uma curva de aprendizado que os aplicativos terão de percorrer”, diz. A Wappa faturou R$ 60 milhões em 2013 e prevê uma receita de R$ 150 milhões nesse ano.