Quênia - Uma estudante foi resgatada neste sábado após permanecer por mais de 48 horas escondida em um armário de um dormitório na Universidade de Garissa, no Quênia. Cynthia Cheroitich, 19 anos, entrou no local e cobriu seu corpo com roupas no momento em que militantes do grupo islâmico Al-Shabaab invadiram a instituição de ensino para praticar a chacina que deixou 148 mortos na última quinta-feira.
Cheroitich afirma que passou os mais de dois dias bebendo loção para pele para se hidratar, já que não tinha água nem alimentos consigo no momento dos ataques. "Eles [terroristas] disseram às minhas colegas de quarto, que haviam se escondido sob as camas, para saírem. E, quando elas o fizeram, eles disseram que se elas não soubessem ler para eles nas palavras muçulmanas, fossem elas quais fossem, para se deitarem. E, se soubessem, que eles iriam para o 'outro lado'", relatou a jovem.
Os soldados que resgataram Cheroitich precisaram chamar o diretor da universidade para convencê-la de que não havia mais perigo na universidade e tirá-la do armário. O governador do condado de Garissa, Nadif Jama, afirmou que haverá resposta das forças de segurança. "A falácia do Al-Shabaab é que eles matam muçulmanos e somalis. Eles já ultrapassaram a linha que bradavam, de pró-islã. Não há valores entre esses terroristas", disse ele.
Pânico na universidade
Quando as forças de segurança encurralaram os homens armados em um dormitório da Garissa University College, onde eles estariam mantendo reféns, sobreviventes descreveram um cenário de horror, onde as vítimas eram mortas a tiros de maneira impiedosa, enquanto outros estudantes corriam por suas vidas.
Collins Wetangula, vice-presidente da associação de estudantes, disse que se preparava para tomar banho quando ouviu tiros vindos do dormitório Tana, que abriga homens e mulheres, a 150 metros de distância. O campus tem seis dormitórios e pelo menos 887 estudantes, disse ele.
A testemunha disse que, quando ouviu os tiros, se trancou no dormitório junto a outros três companheiros.
"Tudo o que ouvi foram passos e tiros. Ninguém estava gritando porque provavelmente imaginavam que o barulho levaria os pistoleiros até onde eles estariam escondidos", afirmou ele. "Os homens armados diziam 'sisi ni al-Shabab' (Somos al-Shabab)."
Quando os homens armados chegaram ao seu dormitório ele pôde ouvi-los abrindo portas e perguntando se os alunos eram muçulmanos ou cristãos.
"Se você fosse um cristão seria baleado no local", afirmou. "A cada explosão eu pensava que seria o próximo a morrer."
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Os pistoleiros começaram a atirar rapidamente e foi como se houvesse uma troca de tiros, explicou.
"Depois, vimos homens com uniforme militar através da janela da parte de trás do quarto que se identificaram como militares quenianos", disse Wetangula. Os soldados levaram ele e cerca de 20 outros para um lugar seguro.
Agostinho Alanga, um estudante de 21 anos, descreveu uma cena de pânico enquanto tiros soaram do lado de fora do seu dormitório ainda de madrugada, quando a maioria dos universitários dormia.
O tiroteio se tornou mais intenso quase imediatamente, ele disse à AP por telefone. A artilharia pesada forçou alguns alunos a ficar dentro dos dormitórios enquanto outros fugiam pelos corredores sob disparos dos militantes. Ele diz ter visto pelo menos cinco homens mascarados fortemente armados.
"Estou me recuperando da dor depois que me feri enquanto tentava escapar. Eu estava correndo com os pés descalços", disse Alanga, que foi uma das dezenas de estudantes que conseguiram escapar através de cercas arame farpado.
O ataque começou por volta das 5h30 — horário local. As orações da manhã estavam em andamento na mesquita da universidade, onde os alunos não foram atacados, disse ele.