Por adriano.araujo

Rio - O traumático despejo da Favela da Telerj, no Engenho Novo, mostra muito mais que a reincidente truculência policial e a degradante miséria de milhares de pessoas. Por trás da ocupação acelerada de um conjunto abandonado da Oi e da retirada dos invasores a fórceps, o episódio escancara grave problema social — em que os governos, no entanto, tentam pôr panos quentes. A moradia, hoje, associa-se a praticamente todas as mazelas do Rio de Janeiro: favelização, gentrificação, mobilidade urbana e conservação precária. O Estado parece ater-se apenas à ‘ordem’, como se viu na sexta-feira. Deveria dar mais atenção à questão, mas, muitas vezes, nem sequer provê o básico.

O Rio é um espremido entre morros e maciços. Favelas surgiram nas encostas no fim do século 19, já um reflexo da falta de planejamento urbano — que desocupa para o ‘progresso’ e nem sempre oferece alternativas. A gentrificação, neologismo que significa ‘enobrecimento urbano’, mostra seu lado cruel no Rio ao jogar para cima o valor de aluguéis e imóveis sem proteção aos mais humildes. Estes são empurrados para longe, onde a falta de mobilidade urbana se faz sentir com condução precária e cara, injusto entrave para quem procura emprego e não mora do lado do local de trabalho pretendido.

Falta chão para construir, e alguns dos quais o Estado dispõe atolam-se em negligência e inação. É o caso do Campus Fidei, como O DIA mostrou esta semana. Ou há remoções questionáveis, como a da comunidade desalojada pelas obras do BRT, que por enquanto não cortou as terras. Imóveis largados, um contrassenso em época de alta especulação imobiliária, muitas vezes são a tábua de salvação para quem está sufocado pelos aluguéis escorchantes. Mas é mais fácil expulsá-los e oferecer ‘aluguéis sociais’ que em nada resolvem o problema. Há quem aplauda uma ‘política exterminadora’, como se invasões fossem crimes hediondos. É preciso manter a ordem, sempre, mas cabe pedir um pouco de compaixão e ações eficazes do governo, a fim de conter essa degradação.

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