Rio - Analistas de opinião pública costumam dizer que as pesquisas eleitorais são um retrato do momento, cujos números, ao nascerem, já estariam velhos. Pois esta parece ser a lógica do último levantamento sobre intenções de voto divulgado pelo Ibope, no início da semana passada, sobre o cenário político no Rio.
A pesquisa Ibope trouxe números positivos somente para Pezão. O candidato foi o único que aumentou suas intenções de voto entre março e junho. O governador saltou de 5% para 13%, consolidando-se na terceira colocação, pela primeira vez à frente de Lindbergh. Garotinho e Crivella seguem como líderes, mas seus percentuais mantiveram-se rigorosamente intactos entre um levantamento e outro, 18% e 16% respectivamente, sinalizando que o isolamento que caracteriza essas candidaturas vem impedindo voos mais altos.
Também podemos observar a tendência do voto para presidente. Dilma caiu de 40% para 36% e viu seu principal adversário, Aécio Neves, crescer um pouco, indo de 13% para 15%. Dilma e Aécio reproduzem no Rio o padrão da disputa nacional. A presidenta é mais votada entre os eleitores menos favorecidos, enquanto os percentuais de Aécio crescem quanto mais altas forem a renda e a escolaridade do eleitor.
Esses números nascem velhos porque não levam em conta as consequências das intensas, surpreendentes e importantes articulações políticas ocorridas após a divulgação da pesquisa. São acordos que possuem a força para afetar diretamente a disputa no Rio e, por tabela, a campanha para presidente. Cito o movimento ‘Aezão’, a adesão formal do DEM, PPS e PSDB à campanha de reeleição do governador, a retirada das candidaturas de Cesar Maia e Miro Teixeira e as alianças entre PT e PSB de Eduardo Campos e entre Pros e PR de Garotinho.
No balanço geral, não é exagero dizer que tais articulações beneficiaram a dupla Pezão e Aécio e enfraqueceram a campanha de Dilma no estado. Com a ampliação de sua chapa, Pezão diminuiu a quantidade de concorrentes e somou quase três minutos a mais de tempo de televisão. Dificilmente ficará de fora do segundo turno.
Aécio, por sua vez, viu abrir diante de si inesperado palanque no terceiro maior colégio eleitoral do país. Terá o apoio de uma das máquinas politicas estaduais mais fortes do Brasil. Serão dezenas de prefeitos, vereadores, deputados federais e estaduais pedindo votos para o tucano.
Já Dilma, além de ver seu principal adversário ampliando espaço político, terá que conviver com a sombra de Campos na campanha de Lindbergh. O socialista, que até então não tinha entrada no Rio, passa a ter a chance de ganhar preciosos votos aqui. Ao fim e ao cabo, o risco de a presidenta ser derrotada no estado que dá a vitória ao PT desde a primeira eleição de Lula, em 2002, é cada dia mais real.
Felipe Borba é cientista político, professor da Unirio e pesquisador do Iesp/Uerj