Chuva deixa pelo menos quatro mortos e mais de 6 mil desalojados ou desabrigados
Famílias das vítimas ainda contam prejuízos causados por temporal
Por thiago.antunes
Rio - No ditado popular, depois da tempestade vem a bonança. Mas para as mais de seis mil pessoas que deixaram suas casas quarta-feira, o dia seguinte ao temporal foi de tristeza ao tentar mensurar os prejuízos da enchente. Quando as águas baixaram, o que se revelou foi um rastro de destruição em todas as regiões. No interior e na Baixada, famílias choram as mortes de quatro pessoas e bombeiros fazem buscas por um adolescente de 15 anos arrastado pela enxurrada. Ainda há 3.500 desalojados e desabrigados no estado.
Margeada pelo Rio Acari, a Fazenda Botafogo foi o bairro carioca que sofreu mais estragos. As ruas pareciam um cenário de guerra, com móveis e aparelhos domésticos misturados à lama. Morador do bairro há 50 anos, o aposentado Luiz Carlos de Moura, 66 anos, ajudava a família a limpar as casas. Quase nada pôde ser aproveitado. Ele, que já foi vítima de cinco enchentes, contou que nenhuma foi tão intensa quanto essa. “A água ficou pela janela. Passamos a madrugada tentando salvar alguma coisa, mas não adiantou muito.”
Lixo amontoado nas ruas de Fazenda Botafogo%2C na Zona Norte%2C um dos mais atingidos pela chuvaAlexandre Brum / Agência O Dia
Drama de quem perdeu tudo
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Dois jovens mergulharam no Rio Acari e nadaram até um carro submerso. Eles amarraram o Siena vermelho a um guindaste e conseguiram içá-lo. Observando a cena, o taxista Rogério Wagner de Santana se desesperava porque o seu Meriva, sem seguro, afundava nas águas. “É a minha única fonte de renda”, lamentou.
Carro caiu dentro do Rio Acari%2C na Zona NorteAlexandre Brum / Agência O Dia
No Complexo do Alemão, pelo menos 400 pessoas estão desalojadas. Os irmãos Elias da Silva, 37, e Cléber Siqueira, 35, ficaram desabrigados. A casa deles caiu na tarde de anteontem. As imagens impressionam. “Vi minha casa caindo. Minha mulher ficou desesperada. Até os carnês dos móveis que estou pagando ficaram soterrados”, contou Elias.
A prefeitura criou força-tarefa para atender áreas afetadas, principalmente 13 pontos da Zona Norte. Mais de dois mil trabalharam nas ocorrências e 700 toneladas de lixo foram recolhidas. No início da noite desta quinta-feira voltou a chover no Sul Fluminense e há previsão de chuva fraca para esta sexta-feira.
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Disputa por comida no lixo após a chuva
Além da catástrofe, muitos ainda têm que lidar com a fome. Na Fazenda Botafogo, a cena era desoladora. Moradores de comunidades do entorno buscavam o que comer no lixo onde um supermercado descartara alimentos molhados pela chuva. “Queria conseguir leite para minhas netas, mas cheguei tarde. Sei que não é o ideal, mas é melhor comer do lixo do que passar fome”, disse a desempregada Eliane da Silva Ribeiro, 49 anos.