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Por Átila Nunes*
A ida de Boulos e Manuela D’Ávila para o segundo turno, em São Paulo e Rio Grande do Sul, respectivamente, pode nos levar à conclusão de uma derrocada das forças conservadoras, sinalizando para uma possível vitória da esquerda em 2022. Errado.

A eleição de Bolsonaro tirou o pêndulo que se sustentava num governo de esquerda e o lançou para o extremo oposto, lá no ápice da direita. Um ano depois, passada a tempestade bolsonarista, o pêndulo saiu da direita, mas não voltou para a esquerda e, muito menos, estacionou no centro. O pêndulo se aquietou entre o centro e a direita.

O eleitor brasileiro é um conservador. Muito mais conservador do que os políticos imaginam. E esse conservadorismo é confundido frequentemente com uma posição ideológica à direita. É, mal comparando, o mesmo equívoco que se comete ao achar que os que votaram em Boulos e Manuela D'Ávila são esquerdistas. Ou que todos que votaram no Bolsonaro, são de direita.

Vota-se no Brasil por exclusão. Se o sujeito que está no poder, seja ele de esquerda ou de direita, não está correspondendo às expectativas, vai ser apeado do governo inapelavelmente, não importa sua posição ideológica. Majoritariamente, os eleitores brasileiros não priorizam as tendências ideológicas dos candidatos. Para essa maioria, não importa a posição ideológica de Eduardo Paes, Crivella, Boulos ou Covas.

O eleitor brasileiro é imediatista. Quer ver resultados. É um impaciente. Odeia blá-blá-blá. É capaz de idolatrar um governador hoje, e amanhã amaldiçoá-lo pela falta d’água. Faz juras de amor ao prefeito que elegeu e o demoniza no dia seguinte porque aumentou o IPTU. E o que tem esse comportamento a ver com ideologia política? Nada, absolutamente coisa alguma. Ele está se lixando se o sujeito foi eleito com o apoio da esquerda ou da direita.

Posições ideológicas são percebidas pelos que gostam de política, os que diferenciam a forma de governar segundo seus princípios ideológicos. A maioria esmagadora do cidadão brasileiro não está nem aí para isso. Um exemplo típico desse erro cometido pelos partidos de esquerda foi confundirem a popularidade do Lula com a ideia de que a maioria do eleitorado tinha se tornado esquerdista. Da mesma forma, Bolsonaro, cujos apoiadores achavam – ou ainda acham – que a maioria é de direita e que jamais permitirá a volta de um esquerdista à Presidência.

O eleitor é pragmático. Valoriza mais o que lhe acenam para o futuro do que foi realizado no passado. Até porque ele acha que tudo que foi feito foi obrigação (e é mesmo) do prefeito ou do governador. Os números do segundo turno jamais revelam a verdadeira aceitação de um candidato. O segundo turno é uma escolha de pura exclusão. O primeiro turno, sim, é revelador da preferência dessa maioria silenciosa.

Os resultados do Rio Grande do Sul e de São Paulo não deveriam ser superestimados pela esquerda. Como a direita não deve se fiar na popularidade de Bolsonaro. Vide os nomes, até há pouco tempo tidos como presidenciáveis. Se Lula já não consegue empolgar multidões, Moro, ídolo até há pouco tempo, já não é mais solicitado para selfies em aeroportos.

Uma coisa é certa. O pêndulo está parado entre o centro e a direita. E aí vai permanecer até 2022. Essa maioria conservadora será até capaz de eleger um político mais a esquerda com a mesma tranquilidade com que escolheria um mais à direita. Dependerá de qual candidato terá a capacidade de convencer de que no seu governo, o brasileiro terá um “futuro melhor”.

Por mais dura que seja a realidade, para um bom naco do eleitorado brasileiro, não importa se o pato é macho. Ele quer comer ovo.

*É jornalista e deputado estadual pelo MDB