E assim o seu corpo, de dias e dias de aconchegos, chegava ao despedir de todos nós. Havia silêncio e prenúncios de dias mais difíceis. É sabido que há partidas e que elas nos partem. Partido fiquei. Partido estou. Prossigo os meus dias trabalhando na semeadura de um mundo melhor. Como deve ser a rotina de todo vivente. É por isso que estamos aqui. É por isso que somos únicos. E é por isso que um dia nos despedimos e vamos ao encontro do que desconhecemos.
Não conheço o sol, mas sei que ele existe. Sinto sua luz e me guio pela sua presença. Experimento o sagrado sem no sagrado tocar e, também, a saudade e, também, os êxtases que me tomam quando sou capaz de amar alguém.
Nem tudo é tato ou paladar ou visão ou audição ou olfato. Sinto os dias de primavera com minha alma libérrima. E me vejo ouvindo e acreditando no eterno. Então toco no meu corpo que fica, enquanto fico. Um dia, corpo não terei. Como minha mãe não mais tem. O dia em que não mais estarei é um pensamento que me ajuda a viver o dia em que estou. O dia em que estou é um dia de saudade e é um dia de sol.
Tenho a disposição suficiente de limpar de mim os reclamos desnecessários, de me banhar de despreocupações, de me vestir de humanidade e pisar com decisão a terra onde me cabe semear.
Encontro pessoas e encontro sentimentos. Nem todos me são agradáveis. Mas convivo. Empreendo a dura batalha dos discernimentos. Não é em todo colo que deito minha história. Saudade do colo de minha mãe. Nele eu me ajeitava sem desconfianças.
Nos textos que rabisco, penso nas crianças e na criança que vive em mim. E que me surpreende quando permito. E que me faz dançar mesmo nos dias surdos. É primavera, sim. E eu vou caminhar. A saudade vai comigo poetizando a vida.