Roberto Ponciano opinião odia  - divulgação
Roberto Ponciano opinião odia divulgação
Por Roberto Ponciano*
Segundo pesquisa levada a cabo pelo neurocientista francês, Michel Desmurget, no livro, A Fábrica de Cretinos Digitais, pela primeira, vez uma geração é intelectualmente inferior à passada. Fato inédito desde que o teste de QI começou a ser aplicado, a melhora no padrão intelectual da geração mais antiga para a mais jovem é chamada de efeito Flyiin (nome do psicólogo que pela primeira vez atestou o fato) e se deve a processos sócio-culturais.
Desmurget assinala que, pelo fato de termos uma geração que, em que pese a quantidade de informações a que é submetida pela web e TV de todo tipo, se submete maciçamente à influência digital, sem a pesquisa e a leitura refletida anteriores, estamos criando uma geração de idiotas patológicos, que efetivamente não passa nem pelo processo da leitura reflexiva, nem pelos processos de socialização coletiva.
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Não, a Netflix não substitui o romance e a poesia. Sou professor e leciono desde o Ensino Fundamental 2 ao Ensino Médio, por azar, minha disciplina é a Literatura, posso atestar o desprestígio que esta tem em qualquer colégio (uma hora diária semanal, ou no máximo duas, simplesmente porque cai no vestibular), e a pouca ou nenhuma leitura de livros literários pelos alunos, que substituíram a leitura dos romances e poesias por resumos digitais. Se lê pouco e se lê mal. Todo tipo de subliteratura, de autoajuda e 50 tons de cinza a Pondé e Karnal.
A certeza cretina e patológica substituiu a reflexão, e mesmo quando ensino em universidade ou cursos destinados alunos de Nível Superior, a primeira pergunta que me fazem é “tem na Netflix”? Na internet influencers completamente desprovidos de qualquer rasgo de inteligência, na TV a cabo, tipos rasos que substituem os personagens paradigmáticos e arquétipos, que antes conduziam as pessoas a serem menos frívolas e as tornavam mais sensíveis a complexidade do que é ser humano.
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Nesta pandemia de ignorância assassinamos Quixote, Casmurro, Capitu, Ema Bovary, Ana Karenina, Dimitri Karamazov. É uma geração que tem certeza, porque afirmar é provar, e não é necessário a pesquisa profunda para nada, por isto o binômio, cancelar/lacrar, é a estética das personagens que já nascem perfeitas, boas ou más de berço, nas séries televisivas e nunca cometem crimes, erros ou pecados. Não à toa, o justiceirismo da Lava Jato cativou corações e mentes de uma geração que acredita em Gothan City e não sabe nada de Pasárgada.
A burrice virou ostentação e é comum as pessoas discutirem temas sem nunca terem lido sequer um livro sobre o assunto. Como já previram Adorno e Guy Debord, a indústria cultural emburreceu as pessoas e massificou a ditadura da imagem única. Não, a Netflix e a web não substituem o romance e a poesia na construção da inteligência, assim, junto à pandemia da covid-19, convivemos com uma pandemia de ignorância.
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É professor e escritor, mestre em Letras Neolatinas e em Filosofia.