Por O Dia
As principais instituições que outrora deveriam constituir uma república democrática se dobram aos joelhos de um governo populista, autoritário, negacionista, incompetente, descoordenado, antipático, insolente e indulgente.
Infelizmente, importantes partes da Justiça, Congresso, as polícias e veículos de comunicação estão todos a serviço da nova Coroa.

Ciência renegada, saúde destroçada, cultura ultrajada, sociedade humilhada; uma terra sem planos, projetos ou políticas.

Os cargos de comando das instituições são ocupados majoritariamente por militares ou membros subordinados nas ideias irracionais, ultrajantes e conservadoras do mandatário. Temos em paralelo uma elite local que se desdobra para favorecer a nova Coroa e aumentar seus interesses de poder e patrimoniais.

Hoje a riqueza se expressa pelo poder político e pela quantidade de ativos financeiros que este poder rende aos seus detentores.

O Brasil hoje tem um Estado autoritário, socialmente violento, absolutamente desigual, uma economia em queda vertiginosa, valores morais e éticos totalmente abandonados.

“Eles não lavram, nem criam. Não há aqui boi, nem vaca, nem cabra, nem ovelha, nem galinha, nem qualquer outra alimária, que costumada seja ao viver dos homens. Nem comem senão desse inhame, que aqui há muito, e dessa semente e frutos, que a terra e as árvores de si lançam. E com isto andam tais e tão rijos e tão nédios, que o não somos nós tanto, com quanto trigo e legumes comemos.” (MINISTÉRIO DA CULTURA - Fundação Biblioteca Nacional Departamento Nacional do Livro - A CARTA DE PERO VAZ DE CAMINHA)
O texto acima retrata o olhar dos portugueses na chegada ao Brasil e aproveito aqui para fazer uma correlação e dizer que a grande maioria política e a elite econômica também olham desta forma para o Brasil atual.

O escravo do passado e era castigado fisicamente quando não produzia. Agora, com este governo, o trabalhador no Brasil viverá uma quase-escravidão. No Brasil atual, o trabalhador estará livre para se sentir um competidor, um empreendedor de si mesmo, sempre concorrendo com milhões de outros trabalhadores que também se sentem empreendedores de si mesmos.

O mercado interno de consumo minguará por falta de capacidade de compra devido aos baixos salários, ao subemprego, ao desemprego e ao desalento. Produtos manufaturados serão quase todos importados. Indústrias tenderão a desaparecer.

Quando o Brasil era colônia portuguesa, Dona Maria I, a louca, proibiu a atividade industrial no Brasil para que não faltasse mão-de-obra para a produção de açúcar e para a extração de ouro. Somente era permitida a fabricação de sacos para empacotamento e a confecção de roupas para os escravos. Era permitida a indústria que apoiava a exportação, tal como será no século XXI.

Para este governo, valores virtuosos não importam mais do que os valores monetários. Verdade, respeito, dignidade e integridade valem muito menos que receitas, rendimentos, margens e lucros. Os valores monetários fazem com que os negócios funcionem, mas são os valores virtuosos que fazem com que os negócios promovam a vida, enquanto funcionam.

Pouco importa para este governo que tenhamos ações movidas pela consciência, o que interessa para eles são leis, normas e regulamentos, redigidas e muitas corroboradas pela justiça para que possam manter o status quo político e a segurança jurídica deles.

Leis, normas e regulamentos fazem com que a sociedade funcione, mas é consciência coletiva que pode criar uma sociedade ética, humana e próspera para todos e fazer com que as leis, normas e regulamentos possam funcionar.

Meio ambiente e sustentabilidade serão temas definitivos para o consumo. Mas o governo pouco se importa com isto.

O futuro da sociedade deverá refletir a vontade do povo e insurgir-se contra a elite para defender os valores do multilaterais internacionais e multiculturalismo.

Precisamos, no tempo mais breve possível, nos distanciarmos do extremismo e da violência social praticada por este governo.
Queremos um país que promova a igualdade, a empatia, a amizade e os seus valores culturais.

Isto exige que as pessoas sejam capazes de participar.
Para serem bem sucedidas, as instituições, em todos os setores – incluindo empresarial, governamental e setor civil – precisam iniciar mudanças em seus ambientes.

O Brasil do atual do governo quer encontrar o seu futuro no seu passado: Ser uma colônia.
Este governo acredita que está na época da revolução bolchevique e a primeira guerra mundial. Uma guerra cujo escopo não se qualificou na conquista territorial, mas no aniquilamento do inimigo.

O Brasil precisa entender que adaptação aos novos tempos é questão de sobrevivência. Precisa saber que é necessário ter sempre um planejamento. E que o processo de reinvenção precisará passar por uma ampla flexibilidade frente a situações que estejam fora do nosso controle.

Este é o Brasil que temos pela frente.
O melhor é que essa história futura seja abortada.
Mas, para isso, será preciso que os trabalhadores e população estejam conscientes e mobilizados. E, principalmente, entendam que somente as disputas eleitorais não serão suficientes.
Será necessário promover uma verdadeira e profunda independência da antiga nova Coroa e da elite local.


Marcelo Kieling é jornalista, bacharel em Ciências Contábeis.
Esteve Secretário de Planejamento e Projetos Especiais em Teresópolis/RJ, foi assessor da presidência do BNDES e respondeu pela Comunicação Social do IBGE.