Júlio Furtado, colunista do DIA - Divulgação
Júlio Furtado, colunista do DIADivulgação
Por Júlio Furtado*
Estamos chegando ao fim de um ano que não vai acabar. O ano de 2020 quebrou o encanto da mágica noite de 31 de dezembro que sempre nos proporcionou a sensação de que, ao amanhecer, teríamos uma nova Era em que tudo seria diferente (para melhor, claro!). A quebra do encanto se dará quando encerrarmos o ano sem nenhum sinal concreto de que 2021 será diferente com relação a nossa principal angústia: o fim da pandemia de covid-19.
Não estamos falando aqui de esperança porque essa é inerente à natureza humana e sempre nos impulsiona a pensar num amanhã melhor. Estamos nos referindo a quebra de uma atitude “folclórica” que sempre fez parte da cultura de final de ano e essas quebras nos fazem pensar no porquê alimentamos essas crenças e qual o sentido, para cada um de nós, de ter que acreditar que a última noite do ano não será mágica e que amanheceremos, no dia 1º de janeiro, vivendo o mesmo mundo real do dia anterior.
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Na Educação, essa simbologia está sendo materializada pela ausência do famoso “resultado final”. Esse fato é consequência do ciclo emergencial 2020/21, viabilizado pela legislação e adotado por quase todos os sistemas públicos e por algumas escolas particulares. 
Consiste na não finalização do ano letivo de 2020, que será continuado em 2021. Esse ano letivo prolongado comportará a série em que o aluno se encontra em 2020 e, de forma sequencial, a série que ele estará em 2021. O currículo deverá ser composto pelas aprendizagens essenciais das duas séries.
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Alguns educadores têm reagido de forma inconformada ao fato de o aluno estar automaticamente na série seguinte em 2021. Argumentam que não acham justo que os alunos que não realizaram as atividades remotas recebam o mesmo tratamento. Tenho argumentado exaustivamente que não podemos usar a mesma lógica que usamos em anos “normais” e que não podemos concluir com tanta certeza de que apenas o descaso se fez presente. O ano contínuo nos convida ao resgate, à recuperação do que não foi aprendido, à empatia para avaliar e à predisposição para seguir em frente.
Na Educação ou na vida, mudança de ano sempre foi uma convenção. Nós é que acreditamos demais na mágica da noite de Réveillon. Talvez esse final de ano nos desperte para o fato de que a realidade é uma sequência de escolhas, consequências e contingências individuais e coletivas da qual, inexoravelmente não podemos fugir e que a melhor forma de lidarmos com o momento presente é encarando-o de frente. Sendo assim, feliz mesmo ano para todos!
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*É professor e consultor educacional