Marcelo Freixo - Reprodução/Facebook
Marcelo FreixoReprodução/Facebook
Por Marcelo Freixo*
Imagine um desses filmes em que o sujeito está perdido no deserto, cambaleando há dias, esturricado pela sede e definhando sob um Sol. Lá para as tantas, já sem esperança, ele vislumbra um oásis e gasta suas últimas energias correndo em direção de uma miragem.

Agora imagine um país lutando para atravessar uma pandemia há mais de 10 meses, enfrentando o desemprego e contando os mortos. E eis que no momento que a doença recrudesce, surge uma esperança, a vacina, mas o presidente da República faz de tudo para transformá-la numa miragem. Esse é o Brasil de Jair Bolsonaro.

Sim, a realidade é um horror, mas ela tem uma vantagem sobre a ficção: nós podemos modificá-la. Se de um lado o presidente dobra a aposta no negacionismo anticiência, transformando a vacina em arma de guerra ideológica e gerando insegurança sobre a imunização, nós estamos trabalhando com cientistas, profissionais da saúde e movimentos da sociedade civil para ajudar a transformar a vacinação em realidade o mais rapidamente possível, sem abrir mão da segurança.

O Brasil é referência mundial em campanhas de vacinação em massa. Na imunização contra a pandemia de H1N1 em 2010, por exemplo, 27 milhões de pessoas foram vacinadas por mês em média. É com base nessa experiência que apresentei ao Congresso Nacional uma proposta de calendário nacional de imunização.

Se alcançarmos ao menos 80% da cobertura mensal atingida na campanha contra o H1N1, nós conseguiremos vacinar em pouco menos de 8 meses após o início da imunização 80% da população, o que equivale a 168 milhões de pessoas, garantindo a imunidade de rebanho. O grupo de risco, cerca de 60 milhões de brasileiros, seria contemplado três meses.


O segundo desafio é dar conta da demanda por vacinas para proteger 210 milhões de habitantes, o que impõe a necessidade de um conjunto de fornecedores. Para viabilizar isso, nós aprovamos no Congresso Nacional a Lei 13.979. Ela determina que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorize, em até 72h, a liberação de vacinas já certificadas pela agência dos Estados Unidos, União Europeia, Japão ou China, o que já ocorreu com os imunizantes da Pfizer e da Moderna.

Além das importações, é necessário ampliar a produção das vacinas fabricadas pelo Instituto Butatan e pela FioCruz, ambos em fase final de testes e com resultados promissores em relação à segurança e eficácia. Para completar esse pacote, nós aprovamos a compra de vacinas através do consórcio internacional Covax Facility, que sob a coordenação da Organização Mundial da Saúde (OMS) reúne países interessados em adquirir vacinas de outros fornecedores.

Sabemos que a caneta está na mão do governo federal, que não demonstra qualquer compromisso com a vacinação. Mas apesar das limitações constitucionais do trabalho parlamentar, estamos cumprindo o nosso dever de lutar para que a imunização se torne realidade e o país possa finalmente sair desse deserto. Afinal, vacina não tem partido.
*Deputado federal do PSOL-RJ