Gabriel Chalita, colunista do DIA - Divulgação
Gabriel Chalita, colunista do DIADivulgação
Por Gabriel Chalita*
Estamos gerando vida, minha mulher e eu. Estamos grávidos! Grávidos de esperança, de futuro, de um novo ano com a novidade, miraculosamente, acontecendo em nós. Foi ontem que confirmamos. E, hoje, eu já sinto a responsabilidade de ser canal de mais uma vida no mundo. Em um mundo tão grande que vai ver nascer meu filho, de início, tão pequeno.

Juliana é operária da serenidade. Ri dos meus arroubos. Brinca com as ansiedades que nascem todo dia antes do próprio dia. Acalma os meus horizontes sem dizer muito, apenas compreendendo e sendo. Diz ela que sou um homem prático, sem desperdiçar os acordes de uma melodia romântica. Beijei ontem, beijo hoje e prosseguirei beijando o lugar do milagre, o aconchego brotado de um encontro de amor. Espermatozoide, óvulo, vida.

Somos dois, que permanecemos dois, nos fazendo um. E, então, um outro, que vem de nós e que é sozinho. Livremente sozinho. Complexo e belo. Como tudo o que brota da terra e que, um dia, ao seu seio volta. Meu pai já voltou. Queria que aqui ele estivesse para embalar seu novo neto, para ensiná-lo a ser bom, o mais importante de todos os ensinamentos.

Rabiscamos em nós alguns nomes. Depois de termos nos amado. Quero continuar assim, fazendo amor, durante o crescimento do nosso filho. Gosto de tocar com delicadeza e de compreender o tempo necessário para nos encontrarmos com o prazer. Ela e eu. Quentes nas descobertas que se repetem e são únicas.

Gosto do que vem antes. Do brincar. Do espalhar surpresas. Do olhar de quem quer ser um. Sem pressa. Os nossos corpos se perfilam em poesia. E as partes vão dizendo o que querem. Querem a presença que alimenta e que alvoroça e que descansa.

Foi um ano difícil. A interminável pausa. Os desatinos de quem deveria amainar os medos. Enquanto as mortes se avolumavam, avolumavam juntos a insanidade, a mentira, o desrespeito. Temo pelo mundo que vai ver meu filho nascer. As violências prosseguem roubando os encontros. Descartando. Desperdiçando vidas.

Os risos ensaiados nos afastam de quem somos. Meu pai era um professador da crença das cirandas de gente, da importância coletiva do fazer feliz. "Ninguém muda ninguém, meu filho. O tempo nos ajuda a encontrar beleza no outro", dizia ele com a sabedoria dos plantadores de hortas humanas.

Juliana, com delicadeza, desliga as notícias e liga música. O despedir do dia deve ser leve para que os sonhos nos ofereçam paisagens melhores. Eu sonho com meu filho esculpindo a vida com a segurança dos que compreendem que nascemos para a felicidade.

Não vou dizer, agora, os meus medos, embora eles permaneçam comigo. Vou respirar a espera com a naturalidade dos que têm fé. Vou ser pai e é essa a emoção que divido com vocês. Há uma vida espreguiçando para nascer. E a cada vida que nasce, nasce um sorriso de Deus, que prossegue criando...
*Gabriel Chalita é professor e escritor