Gabriel Chalita, colunista do DIA - Divulgação
Gabriel Chalita, colunista do DIADivulgação
Por Gabriel Chalita*
Conheci a mulher da minha vida há 12 anos. Foi em uma canção de música de espera. Linda, sentada à minha frente, em uma faculdade de direito.  As primeiras conversas foram cuidadosas. Não sou homem de muitas palavras. Gosto dos olhares.

Gabrielle foi aceitando caminhar comigo. Somos do interior. Temos costumes um pouco vagarosos para tempos tão apressados. Quando conto que, do primeiro olhar ao primeiro beijo, aguardei um ano, parece coisa de antigamente.

Guardo momentos de conversas, guardo gestos de autorização, guardo carícias de jovens amadurecendo no amor. O primeiro beijo ainda mora em mim. Valeu a espera!

Os anos foram se passando, e os amigos brincavam da demora. Não houve demora. O amor nunca deixou de estar presente.
E, então, 12 anos depois, com os cuidados dos dias difíceis que estamos vivendo, ela entrou na Igreja, entrando ainda mais na minha vida. Sou tímido; às vezes, demoro a dizer sentimentos.
Minha mãe não disfarçava a emoção. E, também, a mãe da mulher que amo. E, também, o pai. E, também, o meu pai. Chorei devagar. Emocionado.

Combinamos muito. Fui o seu primeiro e único namorado. Fui com a delicadeza necessária para tornar mágico cada pequeno toque entre os nossos corpos. Sentir o seu cheiro é perfumar de amor os meus dias.

O dia teve chuva e teve sol. Reparei pouco nas temperaturas. E nos enfeites que acompanhavam os seus passos decididos em busca do altar, onde eu estava inteiro para ela.

Tenho amigos que se orgulham das conquistas irrepetidas. Das mulheres que se têm e se descartam. Ouço as histórias e digo nada. Cada um mora na casa que decidiu. A minha é de concreto firme, de base inquebrantável. Que venham os ventos e as outras naturezas. Estaremos juntos. Que venha algum estranhamento, longe de mim plantar perfeições. Em mim, mora o que nela mora, uma decisão de enlace, uma despreocupação com outras paisagens, um sorriso de quem acompanha os dias acompanhado.

Na roça, gosto de arrancar o mato para deixar a terra limpa para fazer brotar o que enfeita e o que alimenta. Quero ter a mesma disposição na vida de casado. Faz só uma semana do beijo do altar, das músicas das núpcias, do dormir sentindo o céu em nós.

E, em todos os poucos dias que se seguiram, eu pude olhar para ela e dizer que o amor existe e que a felicidade daquele primeiro dia, daquela faculdade de direito, endireitou os nossos caminhos.

O que são 12 anos em um sentimento que os poetas já decidiram eterno? Em nós, a escritura do amor foi feita com a arte de uma matéria-prima que nunca se acaba.
Publicidade
*Gabriel Chalita é professor e escritor