Ivanir dos Santos - Opinião O Dia - divulgação
Ivanir dos Santos - Opinião O Diadivulgação
Por Ivanir dos Santos*
Às vésperas do dia 21 de janeiro, dia em que memoramos o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, os devotos da capital fluminense param para manifestar sua fé e prestar homenagem à São Sebastião, para o devotos católicos, ou Oxóssi para devotos das religiões de matrizes africanas.

Quem nunca presenciou, seja ao vivo ou através dos meios de comunicação, a imagem do santo católico com o corpo cravejado por flechas, carregado a cada no dia 20 de janeiro, em procissão junto com milhares de devotos e fiéis? Sem dúvida uma das manifestações da religiosidade popular mais simbólica e identitária do nosso país. Mas por trás dessa manifestação de fé está uma longa e entrelaçada história das formações das devoções populares no Brasil, que foram forjadas no período colonial. Sim, pois pelo sincretismo brasileiro, o santo que enfrenta perigos e que enfrenta as batalhas dos dia a dia pode simbolizar São Sebastião para uns, Oxóssi e/ou o Caboclo para outros.
Segundo nos conta a história, a devoção ao santo, com milagres de cura e de proteção em batalhas, começou a crescer em Portugal no século XVI. Ainda no mesmo século o devocionismo a São Sebastião foi  trazida ao Brasil pelas primeiras expedições dos colonizadores portugueses e por influência, também, de Dom Sebastião Rei de Portugal e Algarves, nascido também no dia 20 de janeiro e batizado com este nome em homenagem ao santo.
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O culto e a devoção foram intensificados, principalmente na cidade do Rio de Janeiro, por Estácio de Sá no século XVI. Pela sua religiosidade, o militar mandou construir uma capela em homenagem ao santo, erguida onde é hoje a área da Praia Vermelha.
Ora! Não podemos nos esquecer que enquanto a cultura portuguesa começava ser assentada em solo brasileiro, sobre a cultura indígena, a cultura negra africana chegava junto com os africanos que aportaram no Brasil na condição de escravos. E é o entrelaçamento desses “encontros” que propiciam o início das construções das características da cultura popular brasileira, e o sincretismo é uma dessas características.
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Tais construções religiosas ganharam ainda mais forças na devoção da Umbanda, criada por Zélio de Moraes, Oxóssi - orixá originário na cultura yorubá, ganha “contornos” religiosos que simbolizam o catolicismo português, as culturas e espiritualidades yorubá e às devoções simbólicas indígenas. Cá do meu canto observo que compreender os processos de formação das devoções religiosas no Brasil é uma das formas de compreender as nossas construções culturais e religiosas que, de forma significativa, expressam as nossas identidades.
Destarte, à véspera do Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa e através desses entrelaçamentos religiosos no Brasil, compreendo que cada vez mais que são as nossas diferenças religiosas nos une e podem, sim, ser uma das bases para a coexistência pacífica em prol da construção da tolerância. Afinal, a data de hoje marca a História do Rio, São Sebastião - um representante do espírito carioca, vamos celebrar o dia do padroeiro da cidade, gravado em nome do município de São Sebastião do Rio de Janeiro. Okê aro !
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*É babalawô e professor-doutor CCIR/CEAP/UFRJ/IFCS
 
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