Max Leone - jornalista - Opinião O Dia - Arquivo pessoal
Max Leone - jornalista - Opinião O DiaArquivo pessoal
Por Max Leone*
O governo Bolsonaro insiste em não continuar com o pagamento do auxílio emergencial em meio à pandemia do coronavírus. Mesmo com a Economia do país em frangalhos, sem dar sinais de que sairá do CTI, o ministro Paulo Guedes e o presidente da República mantêm o discurso de que as contas públicas não suportam tamanho gasto com o repasse de recursos fundamentais à sobrevivência de milhões de brasileiros que ficarão sem renda a partir de agora. O governo vai condenar cerca de 66 milhões de pessoas a deixarem de receber o benefício.
Bolsonaro não se cansa de propagar aos quatro ventos que não será possível estender o pagamento do auxílio emergencial este ano devido à disparada do endividamento público no ano passado. Mas cabe uma pergunta ao ministro Guedes a respeito da declaração dada sobre "tratar o resto todo do orçamento", caso o auxílio emergencial seja renovado. Por que não começar pelos gastos de R$ 1,8 bilhão de todos os órgãos do Executivo Federal com alimentos que, somados, representam elevação de 20% em relação ao que foi desembolsado em 2019?
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Saltam aos olhos a lista e os valores dos produtos que foram adquiridos pelo governo Bolsonaro em 2020, segundo o Painel de Compras do Ministério da Economia, divulgados portal Metrópoles. Vamos a uma parte da lista e dos gastos feitos: uvas-passas ao custo de R$ 5 milhões; pizzas e refrigerantes, R$ 32,7 milhões; molho shoyo, molho inglês e molho de pimenta, R$14 milhões; achocolatados custaram R$ 14,2 milhões; barras de cereais, R$13,4 milhões; batatas fritas enlatadas, R$16,5 milhões; azeite de oliva, R$ 15,8 milhões; frutos do mar, R$ 6,1 milhões; peixes in natura e conserva, R$ 35,5 milhões; bacon defumado, R$7,1 milhões; e embutidos, mais R$ 45,2 milhões.
E não para por aí. Até chicletes foram comprados pela União que desembolsou um total de R$ 2,2 milhões no ano passado. Mas um outro item da lista chama muito a atenção: a quantidade de latas de leite condensado ao custo de R$ 15 milhões. Vale lembrar que a iguaria é a favorita do presidente Bolsonaro, que adora passar o doce no pão e saborear durante o seu café na manhã. O governo até agora não deu uma explicação plausível sobre essas compras, se foram feitas seguindo os trâmites de licitações. O caso precisa ser apurado e investigado.
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Ao somar esses itens, digamos, mais inusitados da lista citada, o governo Bolsonaro gastou dinheiro público da ordem de cerca de R$ 222,7 milhões em um ano. Ao fazer uma conta bem simples, esses recursos seriam suficientes para bancar quase 372 mil auxílios emergenciais de R$ 600 para parte da população que enfrenta de cara e sente na pele a crise econômica em que o país está atolado. E que a política do ministro da Economia não consegue debelar. Indo mais além, com R$ 1,8 bilhão, a gestão de Bolsonaro conseguiria pagar mais três milhões de auxílios emergenciais no valor de R$ 600 e, assim, amenizaria a situação de milhões de brasileiros em todo o país.
Entretanto, pelo andar da carruagem, o governo Bolsonaro prefere manter o discurso da responsabilidade fiscal. E soa como ameaça o tom de que é preciso cortar na Educação e na Segurança Pública, por exemplo, para manter o auxílio emergencial sem, contudo, "tratar o resto todo do orçamento", como decantou Paulo Guedes.
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Ao que tudo indica, as prioridades vão continuar sendo doces e mastigáveis.
*É jornalista