Opina-3 - Paulo Márcio
Opina-3Paulo Márcio
Por Marcus Vinicius Dias*
O ano de 2020 ainda não acabou. A esperança, cada vez mais próxima, de que teremos uma vacina segura e eficaz que nos imunize contra a covid-19 nos abre a perspectiva de que em breve, enfim, teremos um feliz ano novo. A vacina nos livrará de uma pandemia, mas não de todas.
As mazelas da sociedade moderna seguirão nos desafiando a todos. Nossa gente seguirá padecendo de doenças antigas. E o valente Sistema Único de Saúde (SUS) seguirá sendo estressado no dia a dia da Saúde pública brasileira.
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Entre as pandemias que seguirão nos vitimando, o acidente motociclístico se destaca. Se o vírus vindo da China nos ceifou especialmente os avós, os acidentes de motocicleta nos levam os filhos. E quando não os perdemos, os vemos sequelados em cadeiras de rodas, se locomovendo de muletas, ou, mesmo, restritos aos leitos.
O drama humano individual do acidentado se transmuta em drama social, familiar, previdenciário, econômico e, principalmente, de saúde coletiva. As taxas de mortalidade por acidentes de moto escalam valores estratosféricos. Sua progressão, em termos percentuais, faz inveja aos maiores e mais rentáveis índices de investimentos: 475% em dez anos na década passada, segundo a Associação Brasileira de Medicina de Tráfego!
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Um em cada três mortes por acidente de trânsito ocorre na moto... E os números não param por aí: 90% das fatalidades vitima pessoas entre 18 e 64 anos. Ou seja, em plena idade produtiva.
Segundo estudo da Escola Nacional de Seguros, em 2016, o prejuízo causado pelos acidentes de trânsito atingiu a miraculosa cifra de R$ 146 bilhões, algo como 2,3% de todo o nosso PIB. E esse montante não inclui gastos com hospital e tratamento fisioterápico! Se considerarmos o custo assistencial, some-se ainda mais R$ 50 bilhões, segundo o Ipea. E, por analogia, os motociclistas consomem ao menos um terço disso. Sem falar no preço oculto: a dor insuportável da perda de um filho, ou da sentença perpétua de cadeira de rodas para um jovem pai de família.
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Se por um lado nos agarramos à possibilidade de uma vacina que nos liberte do fatídico ano de 2020, não podemos seguir negligenciando uma verdadeira pandemia que nos acompanha há anos. Prevenir o acidente de motocicleta é uma questão tão importante quanto a imunização contra a covid-19. E que no frasco dessa prevenção venha uma dose concentrada de responsabilidade de agentes públicos de saúde, segurança e de
informação.
Mas, sobretudo, que se aplique doses cavalares de reforço no senso de responsabilidade de cada um dos atores de trânsito. E que as máscaras e seringas abram alas para os capacetes, protetores individuais, habilitações e, especialmente, para a Educação. Educação no trânsito!
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*É cirurgião ortopedista do Ministério da Saúde, mestre em Economia pelo Ibmec.