André Esteves - Diretor Executivo do Instituto Cyclus - divulgação
André Esteves - Diretor Executivo do Instituto Cyclusdivulgação
Por André Esteves*
O ano que passou foi um grande laboratório para o desenvolvimento profissional. A pandemia impôs uma transformação urgente e complexa na forma de trabalhar. Chegou sem avisar, pegou de surpresa a maioria de nós e permanece um tempo muito maior do que todos esperávamos. O futuro invadiu o presente e cobrou ações e reações rápidas. Adaptabilidade e reinvenção foram as palavras de ordem. Organizações e colaboradores tiveram que repensar métodos buscando alternativas para sua sobrevivência. Isolamento social, distanciamento e lockdown passaram a ser mais um componente no planejamento estratégico dos gestores.

O futuro do mercado de trabalho ainda pode ser considerado uma incógnita, apesar de diversos movimentos que estão acontecendo. O contexto de mudanças constantes e intensas tende a permanecer por mais algum tempo. Tendências podem ser observadas mas é prematuro afirmar sobre a sua consolidação. Flexibilização de jornadas de trabalho, automação de processos, home office, delivery e transformação digital são alguns desses exemplos. Foram fundamentais como alternativas de sobrevivência das empresas, principalmente as de serviços e o varejo, e foram previstas no último Fórum Mundial Econômico, juntamente com uma grande mudança no comportamento do consumidor.

Diversos estudos estão sendo realizados para tentar identificar novos comportamentos do mercado de trabalho, cujo desafio principal será conciliar a recuperação econômica com as atuais formas de liderar as organizações. O trabalho híbrido ou remoto, por exemplo, cresceu cinco vezes durante a pandemia, ou seja, esta modalidade pode não ter mais volta, tendo em vista que reduz 15% das despesas operacionais e apresentou aumento de produtividade. Sendo assim, o trabalho híbrido é uma tendência possível de consolidação.

A consultoria Deloitte, em artigo recente, destaca os 4Ps que se tornaram relevantes para as organizações neste período: propósito, potencial, perspectiva e possibilidade. O propósito está ligado à relevância de suas ações com a sociedade e consequente engajamento; o potencial está associado ao desenvolvimento das capacidades humanas num contexto em que a tecnologia ocupa espaços cada vez maiores nas organizações; a perspectiva tem relação com a visão de futuro da empresa, com a capacidade de elaborar boas estratégias para garantir o crescimento e a sustentabilidade organizacional; e a possibilidade tem a ver com o conjunto de alternativas e oportunidades de atuação, ampliando o leque de opções na forma de lidar com os problemas e as adversidades.

No centro de tudo isso estão os colaboradores. Seus anseios e perspectivas. Suas dúvidas e desafios. Cabe ressaltar aqui a importância da humanização do mercado de trabalho. As mudanças implementadas pela gestão, como forma de viabilizar as atividades, não podem aumentar o risco da individualização do trabalho, onde cada um é dono de si e não existe possibilidade de criação de ambiente colaborativo. Neste contexto, todos perdem.
*É diretor executivo do Instituto Cyclus