No que se refere a assédios, esses acabaram sendo impulsionados no ambiente virtual, seja pelo diálogo escrito, verbal e não verbal. Os casos mostraram que a ausência de estabilidade emocional, agravada pela inexperiência e ansiedade na adaptação ao ambiente remoto, aliados à aparente inexistência de controle, ampliaram os casos. Por outro lado, as apurações foram eficientes, pois garantiram ainda mais a confidencialidade, principalmente nas entrevistas com vítimas e testemunhas, visto que o home office deu mais liberdade a pessoas falarem e contarem suas aflições.
Na opinião dos investigadores corporativos, a análise verbal e não verbal atrelada ao ambiente virtual acabaram dificultando a realização de entrevistas, bem como, de forma secundária, tanto no processo de adequação da metodologia, como na resistência às mudanças. Porém, os protocolos e métodos nacionais e internacionais de entrevistas se adaptaram, ou seja, os obstáculos foram superados.
Em se tratando de fraudes, em 2020, a ACFE (Associação de Examinadores Certificados de Fraudes) apontou a possibilidade do aumento de fraudes cibernéticas, manipulação de preços e produtos nos meios de pagamento móveis e de assistências médicas corporativas. Todavia, a pesquisa projetou também um aumento do investimento em sistemas antifraude, visto que o ambiente em quarentena e a utilização do home office como rotina apresentaram dificuldades adicionais nas investigações, refletidas na impossibilidade transitória, e na redução de viagens e dos retardos no acesso, assim como na captura e na análise de evidências obtidas remotamente.
Outro ponto de preocupação está relacionado ao aumento significativo das fraudes eletrônicas durante a pandemia, sobretudo por meio de técnicas maliciosas de phishing para roubo de identidades e dados de cartões de crédito e débito, bem como o comprometimento das credenciais de acesso a transações sensíveis. O volume de ocorrências tem preocupado tanto as agências de combate ao crime organizado, como os administradores de segurança da informação e os executivos de diversos setores da indústria.
Num encontro realizado no final do ano, o Forensics Day, com profissionais das áreas de Forensic, Investigação Empresarial e Diligências, além dos temas debatidos, houve um consenso de que as investigações, quando realizadas por profissionais experientes e capacitados, com auxílio jurídico respaldando as ações, se tornam agentes transformadores para as empresas. Os resultados de investigações bem sucedidas podem e devem ser comunicados corporativamente, enaltecendo os impactos positivos para que os colaboradores tenham ciência de que o sistema de compliance funciona com prevenção, detecção e resposta.
E, com o apoio de soluções tecnológicas de ponta na coleta, no processamento e na análise de grandes volumes de dados, é possível reduzir o tempo e o esforço dedicados às investigações, como também aprimorar as técnicas e ferramentas com o uso, por exemplo, das funções de transcrição de áudios e vídeos de WhatsApp e análise de vínculos utilizando a ciência de dados.
*Iuri Camilo de Andrade é consultor e entrevistador forense e Antonio Gesteira é diretor executivo e líder da prática de forense, ambos da ICTS Protiviti, empresa especializada em soluções para gestão de riscos, compliance, auditoria interna, investigação, proteção e privacidade de dados.