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Velloso - Reprodução
Raul VellosoReprodução
Por Raul Velloso*
As previsões atuais dos mercados financeiros apontam para um crescimento do PIB de 3,5% em 2021 e 2,5% em 2022, e que a inflação suba para 3,4% nos próximos dois anos. Estima-se, assim, que a taxa de juros Selic feche 2021 em 3% ao ano e cresça para 4,5% no ano seguinte. Dá para aceitar isso?

Um ponto importante para indagar é se o auxílio emergencial para os menos favorecidos, cuja duração e valor mensal ainda se discutem, será efetivamente aprovado. Diante da pandemia, foram gastos no ano passado R$ 322 bilhões com esse programa, tendo, assim, ocorrido uma forte injeção de recursos na combalida Economia tupiniquim. Os burocratas do Ministério da Economia estão resistindo, mas dado que a pandemia ainda está aí firme e forte, não vejo como o governo e o Congresso não aprovarem sua prorrogação.

Outro ponto é que não devemos nos encantar com os 3,5% de crescimento que se preveem para este ano, pois, mesmo que se materializem, são de certa forma ilusórios. Na verdade, o que se faz é comparar valores médios de um determinado ano contra valores médios do ano precedente.
Assim, como a trajetória da Economia assumiu a forma de um “V” no ano passado, no confronto dos dados do PIB de 2021 com os de 2020, mesmo que o nível de atividade continue ao longo de 2021 igual ao da ponta à direita do “V”, se houver algum crescimento (como os 3,5% que estão sendo projetados ante queda expressiva em 2020), ele refletirá apenas uma espécie de “efeito-carregamento”, devido à base de comparação ter ficado atipicamente deprimida.
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O desejável é que o PIB cresça mais de 3,5%, pois só assim teremos um crescimento efetivamente acontecendo no ano corrente. Rezemos para que o auxílio emergencial venha, e a vacinação aconteça o mais rápido, pois só assim os empregos crescerão.

Será preciso verificar com atenção a proposta de PEC que surgirá nos próximos dias, pois se o governo carregar o dedo na exigência de contrapartida de ajuste (algo com que eu pessoalmente não concordo, por achar que não faz sentido exigir qualquer contrapartida de ajuste quando se tem uma pandemia da dimensão da atual), pode dificultar ou atrasar a tramitação do auxílio, o que precisará ser levado em conta pelo impacto desfavorável que ocorrerá sobre a demanda agregada e, portanto, sobre o PIB.

Quanto à Selic, não consigo entender por que os mercados estão pressionando para ela voltar a subir, pois não vejo por que esperar aceleração relevante da taxa de inflação com uma Economia tão desaquecida e com a taxa de câmbio com oscilações já não tão fortes. Fazer isso só vai acentuar a desaceleração da Economia, a exemplo do que vinha ocorrendo nos anos anteriores aos de Bolsonaro.

Olhar agora para um período mais longo à frente é bastante complicado, pois são muitas incertezas diante do mundo todo, na presença, no Brasil, de uma visão a meu ver equivocada sobre a questão macroeconômica, seja de parte dos mercados financeiros, seja de parte do ministro da Economia, que, pelas confusões criadas, poderá nem sobreviver no cargo.


*É consultor econômico