Além da estrutura da Fiocruz/BioMaguinhos, o Rio dispõe de universidades e centros tecnológicos de ponta, indústrias farmacêuticas instaladas e uma estrutura logística admirável, com estradas, portos e aeroportos. Já existe até o espaço para isso acontecer: a futura sede do Complexo Industrial de Biotecnologia em Saúde (Cibs), no complexo industrial de Santa Cruz, na Zona Oeste da capital, um antigo projeto que a lentidão estatal até hoje não conseguiu erguer.
Trata-se de uma área de 580 mil metros quadrados que até dezembro último pertencia à Companhia de Desenvolvimento Industrial do Rio de Janeiro (Codin). Em 3 de dezembro de 2020, por meio do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos), a Fiocruz finalmente conseguiu a assinatura do governo do estado e recebeu a escritura definitiva do terreno.
Nos últimos quatro anos, a passos de cágado, o local recebeu investimentos do governo federal, que fez a terraplanagem, as cintas e o estaqueamento dos nove prédios que no futuro permitirão Biomanguinhos quadruplicar a sua produção de fármacos. Mas a escritura definitiva era fundamental para Fiocruz garantir a segurança para a captação de capitais privados, o que foi feito por meio do lançamento do edital de licitação em 5 de fevereiro deste ano.
Isso porque o empreendimento, estimado em R$ 3,4 bi, será financiado no modelo de financiamento BTS (“built to suit“, construção sob medida), com previsão de geração de cinco mil empregos na construção e outros 1.500 na operação. Isso resultará no maior centro de produção de produtos biológicos da América Latina - um dos mais modernos do mundo.
Essa pode ser uma oportunidade de ouro para o Brasil dar um passo além e de montador de vacinas passar a ser também produtor de IFA. Nesse sentido, apresentei o Projeto de Lei 2.583/20, que cria, a exemplo do que existe na área da Defesa, a figura das “empresas estratégicas de Saúde”, que receberiam benefícios para investirem aqui e desenvolverem pesquisas.
É urgente que se inicie essa discussão para que, com um trabalho coordenado, que inclua além dos os ministérios da Saúde, Economia, Ciência e Tecnologia, entes públicos e privados, de modo que possamos atrair para o Brasil laboratórios e empresas que, juntamente com a inteligência produzida pelas nossas universidades, deixemos de ser coadjuvantes na Saúde para assumir papel de protagonistas.
Hoje, temos uma admirável capacidade de produção no Butantan e em Biomanguinhos, que produzem a totalidade das vacinas aplicadas no excepcional PNI brasileiro - com sobra para exportação - mas ainda não desenvolvemos as tecnologias, sendo obrigados a importar os insumos. Com investimentos públicos e parceiros privados, nacionais e internacionais, temos a chance mudar essa realidade.