Paulo Velasco é coordenador do Programa de Pós-graduação em Relações Internacionais da UERJ (PPGRI-UERJ)divulgação
Some-se a isso tudo, o embate recorrente de Bolsonaro com o Judiciário, especialmente o Supremo Tribunal Federal (STF), culminando numa campanha irresponsável para minar a credibilidade das eleições e das urnas eletrônicas. A famosa reunião convocada com os Embaixadores estrangeiros acreditados em Brasília, com o propósito de semear dúvidas sobre a lisura do pleito eleitoral, foi o momento mais lamentável e triste de uma sequência de trapalhadas e declarações temerárias do ex-presidente.
Infelizmente, contudo, as teorias conspiratórias e a retórica de ódio que marcaram a gestão Bolsonaro não se encerraram com as eleições de 30 de outubro, mas mantiveram-se vivas entre seus apoiadores, que acampados diante de quartéis por todo o Brasil, pediam uma intervenção militar como única salvação possível para corrigir as consequências da derrota eleitoral, que, na esteira das nocivas palavras do ex-presidente, julgavam fraudadas.
Subitamente, as boas expectativas geradas na comunidade internacional pela vitória de Lula, notadamente em relação à volta do Brasil às boas práticas e princípios que tradicionalmente guiaram a sua política externa, viram-se interrompidas, uma semana depois da posse, pelos atos golpistas e terroristas em Brasília.
Para o bem do país, contudo, a rápida reposta revelou uma ampla coesão de todos os poderes e lideranças mais significativas da República, bem como da sociedade civil e do setor produtivo, na contundente e inequívoca condenação do abjeto atentado às franquias democráticas. Vale notar, inclusive, que as principais lideranças internacionais não tardaram em rechaçar os ataques e em solidarizar-se com o governo recém-empossado, com declarações de confiança no bom funcionamento das instituições do país.
Os tristes episódios corridos na capital federal, já batizados por alguns de “Capitólio brasileiro”, em analogia à igualmente lamentável invasão do parlamento norte-americano em 6 de janeiro de 2021, testaram no limite máximo a saúde de nossa ainda imatura democracia, mas seviram também para reforçar o empenho em favor do resgate da credibilidade do país. A identificação e punição dos responsáveis na execução, idealização e financiamento dos atos terroristas correrá em paralelo à execução de iniciativas domésticas voltadas para o combate à pobreza e à fome, aliado à retomada de um crescimento sustentado e responsável, e à adoção de práticas internacionais lúcidas e pragmáticas que devolvam o país à posição de proeminência e protagonismo que lhe cabe nos foros internacionais.
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