Paulo Baía é sociólogo, cientista político e professorDivulgação

O governo Lula não será nada fácil. Muito trabalho para reconstruir, desregulamentar, desmontar, remontar, re-regulamentar. Reconstruções são muito mais complexas e delicadas que "construir", "fazer do zero" os aparatos de governo e de Estado. Os quatro anos do governo Jair Bolsonaro são um legado perverso, que demandará enorme energia física, emocional, afetiva, psicossocial e, sobretudo, política, por parte de Lula e seus auxiliares.
De outro lado, existe capilarizado em 40% da população um sentimento 'a priori' de rejeição a Lula e seu governo. Não dá para não levar esse cenário em conta. De alguma forma Lula terá que se comunicar com esta multidão que se caracteriza pela impermeabilidade a Lula, ao trabalho e às ações do governo Lula. Lula não precisa falar para os 40% que o apoiam, que estão ao seu lado para o que der e vier, trabalhando na reconstrução nacional.
O governo Lula tem que falar, com foco e entusiasmo, para os 20% da população, que não votaram em Bolsonaro, ou até votaram em Jair Bolsonaro, que farão o desequilíbrio para o lado de Lula ou contra ele.
São pragmáticos, querem funcionalidades do governo. Lula não terá um governo necessariamente equilibrado, terá dificuldades, teremos ondulações, nuances, divergências.
O que não podemos ter é um governo que reproduza as inefáveis práticas históricas de "conciliação e esquecimento", acobertadoras de crimes seculares, de mazelas, intolerâncias e discriminações
A questão central do governo Lula nos próximos dois anos é a "Questão Militar", que sustenta o imaginário delirante dos 40% da população Anti-Lula, apoiadores incondicionais de Jair Bolsonaro ou de um nome que o substitua.
Como bem alerta o professor Eurico de Lima Figueiredo: tem-se que trabalhar com a noção e conceito de "Poder da Cidadania" e não com os conceitos de "Poder Militar" e "Poder Civil", a soberania é do Cidadão, da Cidadã.
Classifico o governo Lula 3 como um governo de dificuldades, de trabalho multiplicado, que tem que ser obrigatoriamente criativo, para lulistas, governistas e opositores.
Paulo Baía é sociólogo, cientista político e professor da UFRJ