Isa Colli é jornalista e escritora - Opinião Divulgação
A preocupação com a alimentação das crianças nas escolas está no foco do noticiário. É um tema de fato importante que não pode ser negligenciado pelos educadores. Pois vejam: no dia 22 de junho, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) realizou uma audiência pública para debater o assunto, com auditório lotado. Uma das constatações foi que o Rio de Janeiro possui apenas duas especialistas em nutrição, mas a necessidade é de 270 profissionais dessa área para atender à demanda de mais de mil escolas públicas estaduais. Os números são alarmantes e podem indicar que a oferta de cardápios saudáveis não estaria entre as prioridades dos gestores.
Na cidade do Rio, a situação pode começar a mudar se o prefeito Eduardo Paes sancionar um projeto de lei que foi aprovado por unanimidade, no dia 13 de junho, na Câmara de Vereadores. O PL proíbe a venda e a oferta de bebidas e alimentos ultraprocessados nas escolas públicas e particulares do município.
Em caso de descumprimento da lei, as instituições de ensino particular da cidade serão notificadas para regularização em até dez dias, quando então poderá ser aplicada multa diária de R$ 1,5 mil. Ainda que seja ‘na marra’, penso que a nova legislação poderá ajudar a enfrentar esse problema de saúde pública que afeta não somente o Rio de Janeiro: o Brasil está em quarto lugar no ranking mundial de obesidade infantil.
Imagino que alguns de vocês podem estar se perguntando: quais seriam os alimentos ultraprocessados? Pois bem: são aqueles que passaram por maior processamento industrial e possuem alta adição de açúcares, gorduras, substâncias sintetizadas em laboratório e, principalmente, conservantes. Eles são calóricos, têm pouco valor nutricional e viciam. São exemplos os biscoitos recheados, sorvetes industrializados, macarrões instantâneos, salgadinhos de pacote, maionese, nuggets e salsichas.
Essa lei deveria inspirar outros municípios. Afinal, a reeducação alimentar precisa acontecer na infância, antes que o mal se torne irreversível. Por que eu digo isso? Um estudo feito por pesquisadores do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da USP mostra que, no Brasil, em torno de 57 mil mortes por ano em pessoas de 30 a 69 anos são atribuíveis ao consumo desses alimentos ultraprocessados.
Os pesquisadores também apontam que a redução pela metade da ingestão dos ultraprocessados teria o potencial de evitar 29.300 mortes. Eu sou a prova de que cortar alimentos considerados venenosos ao nosso organismo surte efeito. No meu processo de tratamento e cura de um câncer, adquiri hábitos saudáveis, passando a evitar gorduras ruins e a comer carnes magras, frutas, verduras, cereais, frutos secos e sementes, como castanhas, nozes e avelãs. Com o tempo, a perda de peso foi apenas uma das consequências. O maior ganho é que passei a me sentir mais bem nutrida e com energia para tocar as atividades do dia a dia.
As leis são importantes para disciplinar as escolas, mas não podemos esquecer que o primeiro lugar onde aprendemos a comer é na nossa casa. Então, é fundamental que esse debate extrapole os muros das escolas e chegue ao ambiente familiar. A mudança precisa envolver a todos e todas.
* Isa Colli é escritora e jornalista
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