Duda Quiroga é professora, psicopedagoga e integrante da Executiva Nacional da CUT Divulgação
Março chegou, mês dedicado a nós mulheres, bom momento para reflexões sobre a nossa situação na sociedade. Algumas pautas prioritárias a serem debatidas são: a defesa da democracia, a luta pela igualdade salarial e a (eterna) luta contras as violências sofridas diariamente por todas as mulheres.
Defender a democracia é fundamental, pois somos as primeiras a perder direitos em estados de exceção. Também é imprescindível falarmos sobre igualdade salarial, que agora é lei e precisa de estratégia para garantir fiscalização do cumprimento – em 2023, a média salarial de uma mulher negra correspondia a apenas 48% da média de um homem branco na mesma função. E precisamos, constantemente, lutar contra as várias agressões que sofremos, psicológicas e físicas, em todos os ambientes, desde a nossa vida pessoal à profissional.
Desde os cuidados com a casa e a família, até o sustento do lar, a carga colocada em nossos ombros é pesada e emocionalmente muito desgastante. A banalização das diversas violências contra mulheres e crianças é gritante. Segundo pesquisa realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em novembro de 2023, foram 722 feminicídios só no primeiro semestre do ano, no Brasil. Já o estudo do Instituto DataSenado em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência (OMV), divulgado também em novembro, mostra que 30% das mulheres do Brasil já sofreram algum tipo de violência doméstica ou familiar provocada por homens – cerca de 25,4 milhões de brasileiras.
Precisamos conscientizar toda a sociedade, sobretudo as mulheres, sobre nossos direitos. Precisamos reivindicar que o Estado faça sua parte através das políticas públicas, mas que a sociedade também compreenda a importância de pautas como divisão sexual do trabalho e tarefas de cuidado. A histórica premissa de que cuidar é tarefa feminina faz com que os nossos salários sejam compreendidos como complementares, mesmo que hoje a maioria dos lares sejam sustentados por mulheres.
É preciso refletir quanto tempo depois de ser mãe uma mulher consegue voltar para o mundo do trabalho e quanto isso impacta no seu salário, para que possamos pensar em estratégias para que não tenhamos que escolher entre ser mãe ou ser uma profissional qualificada e reconhecida. Queremos que os homens e o Estado se responsabilizem também pela sustentabilidade da vida humana, que o tempo investido nessas tarefas deixe de ser invisível e que as cidades sejam pensadas para todas as pessoas, desde a primeira infância. Não é possível mudar o mundo sem mudar a vida das mulheres. Não é possível mudar a vida das mulheres sem mudar o mundo.
Duda Quiroga
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