Marcos Espínola é advogado criminalista e especialista em segurança pública divulgação

Foram anos assistindo o crescimento das milícias no Rio de Janeiro. Poderia estar falando do Poder Público, o que também é verdade, porém me refiro ao Comando Vermelho, a primeira facção criminosa e uma das maiores do país, que viu grupos paramilitares não só avançando territorialmente, mas implementando um novo modelo de negócio, explorando serviços públicos, como gás, internet, TV a cabo, transporte, entre outros. Em certa desvantagem, a estratégia do CV foi investir forte na retomada e no avanço territorial das comunidades, o que tem resultado numa guerra em várias partes da cidade, sobretudo, na Zona Oeste.
Trata-se do maior movimento de expansão do CV no Rio desde a criação dos grupos paramilitares, no fim dos anos 90. Uma ação impulsionada pelo avanço da facção também pelo país, onde trava uma outra guerra, esta contra o PCC – Primeiro Comando da Capital. Tudo comandado dentro das penitenciárias, que se tornaram “Universidades do Crime”.
Assim, pouco a pouco, o CV vem angariando mão de obra, se aproveitando da pobreza que vive a população, principalmente os jovens e dependentes químicos. Em pouco mais de cinco anos, a facção se espalhou pelo Norte e pelo Nordeste, ganhando protagonismo maior no tráfico internacional de cocaína.
Na Cidade carioca, o empenho foi retomar comunidades dominadas por grupos milicianos. Dados do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni), da UFF, demonstram como o crime foi se espalhando nos últimos dois anos pela região invadida pelo CV, que vai da Praça Seca até Guaratiba, passando por toda a Grande Jacarepaguá. Ao todo, 89 localidades diferentes, que ocupam 23km² — uma área três vezes maior que Copacabana — foram “colonizadas” pelo crime em seis anos.
Com a investida pesada, a facção retomou territórios da Zona Oeste, denominando-o de Grande Complexo de Jacarepaguá. A facção financiou bandos armados e articulou dezenas de ataques coordenados. O interesse do CV na região não se restringe mais à implantação de bocas de fumo, mas replicar o modelo da milícia, com exploração da venda dos diversos serviços.
O crime avança a passos largos e as nossas polícias, limitadas em suas condições gerais e com pouco efetivo, trava um enfrentamento desproporcional. Sozinha, nenhuma polícia dará conta de frear a criminalidade nos grandes centros. Atingimos um patamar nunca visto e somente com uma ação federal, com base na inteligência e articulada com estados e municípios, será possível revertemos esse quadro e, mesmo assim, em médio e longo prazo. A realidade, hoje, é que o CV domina o Rio.

*Marcos Espínola é advogado criminalista e especialista em segurança pública