Escritora Isa Colli: lançando livro infantil sobre albinismoDivulgação

Passados 13 meses desde o início do conflito entre Israel e o Hamas, é nítido para qualquer ser humano mais atento às dores alheias que a situação na região de Gaza tornou-se uma tragédia humanitária com danos irreparáveis aos povos que vivem no local. E o relatório divulgado pelo Escritório de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas na última sexta (8) confirma essa realidade, com base em números preocupantes: quase 70% dos mortos são mulheres e crianças.

No documento, a ONU condena o que chama de violação sistemática dos princípios fundamentais do direito humanitário internacional. Entre esses princípios, está a diferenciação entre civis e combatentes, o que não acontece em Gaza, já que 80% das fatalidades ocorreram em edifícios residenciais.

O cenário é alarmante: quem não entra nas estatísticas de vítimas fatais, padece em vida os horrores da fome, das doenças e do futuro incerto. Coincidentemente, um dia antes da divulgação do relatório, conversei pelo Whatsapp sobre esse assunto com o amigo Daniel Balaban, que é diretor do Centro de Excelência contra a Fome da ONU.

Ele foi taxativo ao afirmar que a guerra entre Israel e o Hamas, como muitos conflitos prolongados, tem tido um impacto devastador no aspecto humanitário. O estresse contínuo da guerra causa traumas psicológicos severos, aponta Balaban. Crianças que crescem em zonas de conflito frequentemente enfrentam problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão, que podem acompanhar toda a vida. O bloqueio e os ataques limitam o acesso a alimentos, água potável e serviços básicos de saúde.

Daniel me informa que, em outubro de 2024, o parlamento israelense votou para proibir as operações da UNRWA (em português ‘Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina na Palestina’) na faixa de Gaza e Palestina. Se e quando a legislação for implementada, agravará ainda mais a crise humanitária. Sem a UNRWA, a entrega de alimentos, abrigo e assistência médica para a maioria da população de Gaza seria interrompida. O próprio Programa Mundial de Alimentos da ONU, que coordena a entrega de alimentos em campos, abrigos e escolas, também seria inviabilizado.

Impedir a atuação da ONU na região significa relegar à própria sorte a população local, que está enfrentando grave insegurança alimentar. O massacre atual também impede o acesso à educação e ao emprego. Muitas crianças não conseguem ir à escola, e adultos têm suas carreiras interrompidas, criando um ciclo de pobreza que pode durar gerações.

A possibilidade de um desfecho pacífico é complexa e depende de muitos fatores, incluindo a vontade política das partes envolvidas e da comunidade internacional. Embora a história mostre que a paz é possível após longos conflitos, a desconfiança e a retórica de ódio frequentemente dificultam o diálogo. Eu e Daniel encerramos nossa conversa com um incômodo: há muitas feridas abertas a serem sanadas e, no jogo de xadrez político, a eleição de Donald Trump nos EUA tende a piorar a situação, com as já anteriores manifestações do presidente recém-eleito a favor de Israel e da expansão de suas fronteiras.

Ainda há tempo para a paz! Mas, para isso, a união dos que abominam a guerra e a violência é imprescindível.

* Por Isa Colli, jornalista e escritora