Os sinais sinalizavam, há algum tempo, o desinteresse. Eu insistia em prosseguir. Fazia névoa nos meus entendimentos para desacreditar do cansaço do amor.
Aprendi que o amor não tem cansaço. Aprendi errado, talvez. Ou não aprendi a saber se é ou não amor. Névoas, sim. Olhava para o lado para não ver o que estava à frente ou olhava para frente para desaperceber o que ao lado estava.
O namoro não anunciava outros compromissos. E havia os sumiços. Com dizeres pálidos. Eu sorria temendo reações que me causassem dor. E prosseguia acreditando que era melhor prosseguir a começar tudo de novo. E prosseguia com medo do que ficaria em mim se ele dissesse que iria partir.
Dos espaços vazios da sua presença a uma presença grosseira, quando estava. Um dizer meu era seguido de alguma repreensão ou de algum gracejo sem polidez. Como se ele soubesse e eu não. Como se ele pudesse, eu não. Como se eu não estivesse com a autorização para estar.

Os que me conheciam, antes dele, e me viam sem ele tentavam fazer uma fotografia que revelasse essa ausência de mim. Eu fingia surdez. Eu ria sem profundidade. Tudo era raso pela ausência de nós em nós.
Ele foi embora algumas vezes e eu chorei. Chorei o que não tinha quando ele estava, mas ele estava. Eu insistia na volta. Ele esperava que eu fizesse isso. Era o meu dizer descasado de qualquer pensamento.
Pensar dói. E eu tenho medo da dor. O medo assustou por algum tempo a coragem.

Outros gestos foram explicando os sumiços. A nossa cama não era a única nas escolhas dele. Os ditos de amor que eram raros, mas eram ditos, eram também ditos a quem eu não queria saber. Nem os ditos nem a frequência em que eram ditos.
Foi então, em um dia, depois de tanta aridez nas palavras e no comportamento, enquanto estávamos sós, que ele olhou para mim, na frente de outros, e culpou a minha insistência no seu amor. Disse o quanto a humilhação fazia parte dos meus suplícios. Do quanto eu não era. E riu desdizendo qualquer coragem em mim de me levantar. No chão, não se vive.

No instante da grosseria, comecei a tentar culpar a bebida, ele não havia bebido. Inventei uma infância sem amor na vida dele que o tornou tão pouco afeito ao respeito. Criei uma oração ao tempo para que o tempo acelerasse o passar e fôssemos para casa, sem os olhares que me olhavam com comiseração. Quando eu, quase em silêncio, sugeri que era a hora de ir, ele disse que eu fosse sem ele e que, sem ele, eu me acostumasse.
Amar é um ato de coragem. Deixar de amar, também. Os olhares que me olhavam se transformaram em todos os olhares do mundo, dizendo ao meu mundo que eu já não era. Andei a passos lentos, esperando que ele viesse atrás. Atrás, só havia uma história com a errada pontuação. Era preciso despedir as vírgulas. Era preciso um ponto final.
Vozes de pessoas e tempos diversos faziam som em mim, enquanto eu caminhava sem caminhante algum ao meu lado. Por que insistir? Por que inventar desculpas para justificar comportamentos que não dizem amor?
Tantas vezes eu quis estar e ele, não. Tantas vezes eu romantizei o não acontecido. Medo da solidão? Medo de recomeços? A vida é um recomeço. Todo dia o dia começa. E por que não eu?
Os sinais estão ora fechados, ora abertos. É preciso apenas prosseguir. Com a calma necessária e com o necessário não parar. Parei demais a minha vida. Será que aprendi? Ou será que esses lapsos de consciência irão embora, quando a dor disser que eu volte a rastejar a sua volta?
Não. Hoje a decisão está na coragem de deixar de amar. Ou no apagar da teimosia.

As luzes da noite estão acesas. Há um luar preguiçoso, dizendo algo bonito em mim. Há pessoas nas calçadas, calçadas com suas promessas de amanhã. Ninguém está parado. Nem o tempo. O tempo que faz brotar na primavera o que no inverno parece o fim.
Deixar partir é o que eu tenho a dizer. A mim e à parte de mim que sabe que, amanhã, posso ser primavera também.